segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Posto de Emergência

O Posto de Emergência
Continuação do livro Obsessão Sexual – uma porta para a loucura.

     Há cinco anos meus instrutores me advertiram; já é hora de situar o leitor espírita interessado nas reuniões de desobsessão dentro de uma reunião mediúnica. Traremos até o grupo casos de maior profundidade no campo da obsessão, que deverão ser tratados, sendo todo o processo gravado e grafado em livros.. Nestes a atuação de médiuns, doutrinadores e passistas, bem como da equipe espiritual que os orienta será detalhada de tal maneira que o leitor se sinta dentro da própria reunião. Ele deverá ter a sensação de que faz um estágio na sala mediúnica e de aprecia a aplicação prática do que antes só consegui imaginar à distância.
     Iniciei esta tentativa com o livro Desobsessão – A terapia dos imortais, seguida de Obsessão – Encontro marcado com a dor; e de Caçadores de Ilusões, daí para frente não parei mais, e só o farei quando me derem ordem para mudar de rumo.
     Existem casos de obsessão que podemos chamar de severos, ou seja, que duram anos e exigem doutrinações cuidadosas e demoradas. Tais casos não podem ser tratados em reuniões de rotatividade, como as utilizadas normalmente em dias comuns, nas quais os envolvidos se acertam com pouca conversa.
     Ódio enraizado e combates ferrenhos, que envolvem legiões de perseguidores, necessitam de muito tato e paciência, boa argumentação e persistência, a fim de convencer o s litigantes de que nada é mais benéfico e produtivo do que a paz.
     Foi com a finalidade de atender a casos dessa natureza que os instrutores do grupo espírita filiado ao Centro Espírita Grão de Mostarda, sediado em Fortaleza, capital do Ceará, solicitaram há alguns anos a ampliação do nosso quadro mediúnico e a criação de reuniões de emergência. Tais reuniões deveriam funcionar como unidades de terapia intensiva onde pudéssemos atender e dar continuidade ao tratamento de pacientes graves. Assim foi criado o grupo de desobsessão “Bezerra de Menezes” cuja prática ficou conhecida como emergência mediúnica.
     Ampliar não é tudo. Foi necessário trabalhar arduamente a disciplina, a persistência, o estudo, fazer entender a todos os componentes do grupo que o lema adotado – compromisso assumido é compromisso cumprido – deve ser seguido sem vacilações.
     Desde então, como por encanto, quando um caso é encerrado, outro já se encontra a espera, todos selecionados por eles, os instrutores, que podem avaliar melhor do que nós, a urgência, o  merecimento, a gravidade e outras variáveis envolvidas no atendimento.
     Se o setor de emergência dos hospitais terrenos multiplica os esforços para atender a dor material, há de se esperar o mesmo procedimento com relação às dores morais, vastas e profundas em um planeta qual a terra, onde o mal ainda atormenta a maioria dos espíritos encarnados e desencarnados.
     Como a medicina acadêmica ainda sofre do mal da indiferença para com as dores morais, estas se avolumam, desmentindo diagnósticos que atestam saúde aos medicados apenas com drogas e bisturis. As dores da alma são imunes a analgesia ambulatorial. Somente com a transformação moral, a erradicação dos vícios com conseqüente aquisição de virtudes, vai o espírito adquirindo a saúde necessária para sua maturidade e autonomia.
     Este é um tema digno de constar nos compêndios escolares, em currículos profissionais, em cursos, palestras, simpósios, seminários, ou seja, uma conversa para a vida inteira. Se todos nós temos um corpo e um espírito e um exerce influência sobre o outro, transcendência, há de se planejar a harmonia entre ambos a fim de que o caminhar não apresente a instabilidade dos pernetas.
     Quando o homem privilegia somente a face material da sua existência, corre o risco de se tornar vulnerável aos inimigos desencarnados. Estes se deslocam ávidos à procura de companheiros que lhes auxiliem na caça dos prazeres e excessos que já não podem praticar, senão através do auxílio e da parceria de robôs, teleguiados.
     Tais desocupados do Além buscam nos antros de vícios, aqueles que lhe servirão como meio de obtenção de bebidas, drogas, alimentos, sexo, escravizando-os através de induções habilmente ministradas. Recebendo os convites através dos sutis caminhos da mente, os invigilantes julgam agir por conta própria e inspirados por seus próprios desejos. Seus hipnotizadores os fazem pensar que são livres; repetem incessantemente aos seus ouvidos que a vida é para ser vivida; mostram vantagens no perigo e heroísmo no desatino; honradez na desordem e sabedoria na preguiça. Aproveitam-se, enfim, da imaturidade e da leviandade desses caminhantes desatentos para solapar-lhes as forças vitais, deixando-os exaustos e sem inspiração para as tarefas redentoras.
     O posto de emergência criado tornou-se assim o destino de obsessões tenazes, pois é raro que um centro espírito se dedique a este tipo de trabalho fecundo e continuado. Talvez a dificuldade na instalação desse procedimento seja a exigência de um grupo treinado, estudioso, afetivamente ligado e moralmente disciplinado.
     Todavia, de tal forma sua necessidade é imperiosa, que os casos que ele atende não se limitam ao espaço geográfico da cidade onde se situa. Eles chegam através de cartas, telefonemas e da internet, oriundos de todo o país, e até de fora dele, e são selecionados pelos instrutores desencarnados. Tudo quanto os componentes do grupo fazem é colocar os nomes dos solicitantes em um livro destinado a esta finalidade. Se o caso será ou não atendido, depende da avaliação dos instrutores, que observam a necessidade da intervenção, o merecimento por parte do solicitante, a urgência do atendimento, enfim, se é conveniente que aquele paciente, naquele instante e naquelas condições, livre-se do fardo que carrega.
     Contudo, sem qualquer desejo de criticar as pessoas que nos buscam, aconselharia a que procurassem, caso existam, os centros espíritas de sua cidade, hoje espalhados em milhares de municípios brasileiros. E já estando filiado a um deles, que confie em sua atuação.
     Deus ocupa todos os espaços, ou seja, está em todos os lugares, o que nos dá a certeza de que sempre escuta qualquer prece ou pedido sincero, mesmo estando o que ora, no fundo do poço mais profundo. Importa a maneira de orar, a lucidez do pedido, o merecimento do pedinte. Tenha ele a confiança de que, se seu pedido é justo, será atendido aqui ou alhures. Essa garantia vem de Jesus quando afirmou: a cada um será dado segundo suas obras; buscai e achareis; pedi e dar-se-vos-á.
     Alguém poderá dizer mediante tais informações: e os bons espíritos não estão aí para ajudara as pessoas? É certo que sim, mas mediante critérios. Em muitos casos de obsessão o obsidiado se sente bem com a companhia do obsessor, e mesmo quando os bons espíritos o retiram, ele o chama de volta através dos seus pensamentos e desejos.
     Em outros casos, a retirada do obsessor significaria o desencarne do obsidiado. Em terceiros, o obsessor é um freio à natureza agressiva do obsidiado e mais se complicaria a situação se livre ele estivesse. É urgente que este faça o esforço de renovação de hábitos e de atitudes, sem o qual, mesmo com a retirada do incômodo hóspede de sua casa mental, outro aventureiro pode invadi-la em substituição ao que partiu, pois uma porta aberta é um convite a quem passa.
     Sem o esforço do paralítico, aquele despendido pelo paraplégico quando solicitou destelhar a casa onde Jesus estava: que a multidão o erguesse, e em seguida o baixasse, para ficar frente a frente com o Mestre e dele solicitar auxílio, não há garantia nenhuma de melhora. Que o necessitado alimente a fé, sustente a esperança, busque incessantemente a elevação moral para receber a caridade, pois esta necessita de tais implementos.
     Como os encarnados que participam do grupo de desobsessão não teriam como fazer tais avaliações, é fácil entender porque elas estão a cargo da equipe desencarnada. Lembramos ainda que as obsessões severas, geralmente, são motivadas por vingança, e neste caso, há muitos sentimentos em jogo, sendo o mais resistente deles, o ódio, que não se esvai com uma simples conversa.
     É necessário convencer o espírito vingativo de que não há vantagem na perseguição; que a lei de Deus deve seguir seu curso, justiçando seu ofensor; que um revide mais complicará sua situação, pois adicionará ao seu sofrimento mais um resgate futuro. Com o decorrer das reuniões, quando os instrutores o submetem à regressão de memória, ocasião em que ele fica ciente de que não é uma vítima, ou seja, que fez algo semelhante ou pior a alguém, sua fúria arrefece.
     Nesse instante, embora não demonstre de imediato, ele descobre o mecanismo da lei de causa e efeito; um pensamento oriundo dos subterrâneos de sua mente o previne de que ele sofreu por algo que fez a alguém; que se concretizou nele a advertência de Jesus quando afirmou: quem com o ferro fere com o ferro será ferido. É então que, mesmo a contragosto, demonstra certa humildade e reconhece pequenez diante da lei. Sente-se menor, o que equivale a dizer, sente a grandeza de Deus; que o mundo não está à deriva; que todos são observados em sua bondade ou maldade; que se recebeu o quinhão da lei relativo a uma má ação poderá receber outro por uma boa ação. A partir de então a doutrinação fica mais fácil, pois a rebeldia está domada e a fresta para o coração está aberta.
     Geralmente, estabelecida a paz, são mais amigos que o grupo adquire. São momentos de emoção, às vezes tão profunda que as lágrimas não encontram barreira, espalhando pérolas sobre a mesa onde as batalhas verbais são travadas. É a alegria sem mácula, a sensação de estar em um mundo onde a bondade é a lei, a leveza de se sentir útil, amado, necessário.
     Quem me dera que meus irmãos espíritas tivessem em cada centro, um grupo de emergências, pois elas se avolumam sem atendimento, quais filas a espera de órgãos doados. Que o amor, esse sentimento ainda incompreensível em seu pode, nos renove a alma e nos conduza aonde o trabalho nos requisite a ação. E que jamais nos acomodemos diante da dor dos necessitados.

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