domingo, 10 de abril de 2011

Por quê Esquecer o Passado?

     O que estudamos sobre a lembrança dos sonhos, aplica-se também às  recordações de nossas existências anteriores. Quando reencarnamos, nosso cérebro carnal, reduzindo nossas impressões espirituais a zero, não permite que nós nos recordemos das reencarnações pregressas; guarda-as adormecidas nos refolhos de nossa memória espiritual que nô-las restituirá mais tarde, ao desencarnarmos.
     Todavia, além das causas próprias da matéria, há poderosas razões de ordem moral que impossibilitam a recordação do passado; vejamos as principais:
O remorso de crimes antigos
     Assim como há pessoas que erram dolorosamente hoje, é provável que tenhamos cometido desatinos em nossas vidas passadas. E se nós nos lembrássemos, o arrependimento e o remorso voltariam a torturar-nos, não deixando nossa consciência livre para que nos apliquemos à correção dos erros e à reparação dos males que fizemos no pretérito longínquo.
A presença de antigos desafetos
     Há duas forças irresistíveis que atraem os espíritos: o amor, força positiva; e o ódio, força negativa.
     O amor é força positiva, porque o amor constrói.
     O ódio é força negativa, porque o ódio destrói.
     O amor atrai os que se amam; o ódio, os que se odeiam.
     O ódio precisa ser transformado em amor e doce fraternidade deve unir-se a todos. Para que isso aconteça, os desafetos do passado são colocados juntos na reencarnação presente, comumente na mesma família, unidos pelos laços consagüíneos, para reabilitarem-se e aprenderem a amar-se uns aos outros. por conseguinte, se não fosse o esquecimento transitório que esparge a paz nos corações, os lares terrenos em sua grande maioria seriam ninhos abomináveis de ódios inextinguíveis.
Situação presente inferior à passada.
     Em cada uma de nossas reencarnações, somos colocados em situações diferentes. E se a atual posição em que estamos, for inferior à da reencarnação passada, a lembrança da grandeza do passado, agora inatingível, ser-nos-ia um tormento constante.
     Do mesmo modo, se hoje estivermos reencarnados num corpo torturado por moléstias incuráveis, ou deformado, ou defeituoso, ao recordarmos de que já tivemos um corpo perfeito, nossa dor seria bem maior.
Situação presente superior à do passado.
     Caso a nossa situação atual for superior à antiga, a lembrança do passado humilde em confronto com a grandeza do presente, daria ensejo a que o orgulho se apossasse de nós, comprometendo nossas realizações.
Saudade de entes queridos.
     Nem sempre em nossas reencarnações estamos reunidos a nossos entes queridos do passado. Pode dar-se que reencarnemos em ambiente totalmente estranho, onde iremos conquistar novos amigos, novas afeições, entregando-nos à tarefa da redenção. Então a recordação de nossos entes queridos, dos quais estamos afastados provisoriamente, faria chorar os nossos corações.
Reincidência em vícios antigos
     Outro grande inconveniente que a recordação do passado nos acarretaria, é o perigo de reincidirmos nos vícios antigos, continuando o nosso embrutecimento. Se no passado os vícios nos arruinaram e agora o esquecimento transitório possibilita nossa reabilitação, a lembrança das reencarnações mal aproveitadas dificultaria sobremaneira nossos esforços e os anularia em muitos casos.
Rotina
     Somos ainda rotineiros. Se nós nos lembrássemos de nossas reencarnações precedentes, seríamos levados a viver do mesmo modo hoje, como já o vivemos anteriormente. Nossa tendência seria continuar a viver do mesmo modo, sem procurarmos novos campos de ação. Estacionaríamos. Não progrediríamos a não ser mediante esforços sobre humanos, dos quais a maioria das criaturas fugiria.
     Pela ligeira análise que acima fizemos, ficamos compreendendo porque é necessário o esquecimento de nossas reencarnações anteriores. Porque as lembranças penosas e as angústias antigas viriam juntar-se às dificuldades de hoje e, longe de abrandá-las, agravá-las-iam. Eis explicado, embora sucintamente, porque as lembranças do que fomos anteriormente não podem ser despertadas; caso o fossem, ansiedades inúteis amargurariam os dias que agora vivemos.
     Na realidade, contudo, nós não nos esquecemos de nosso passado; ele jaz latente em nosso íntimo e volta à nossa lembrança em forma de pendores, inclinações, gostos, simpatias e aversões. Todos nós temos tendências e faculdades que quase equivalem a uma lembrança efetiva de nossas vidas pregressas. Bastaria que nós nos puséssemos a analisar nossa vida presente, traçando um quadro de nossas inclinações, de nosso íntimo modo de pensar, para termos uma idéia bastante aproximada do que fomos no pretérito, porque hoje somos o produto dele.
     E assim o homem inteligente evita queixar-se; sabe que através de suas queixas e lamentações, uma pessoa analisadora e observadora facilmente lhe descobrirá o passado, pelo menos em linhas gerais.