quinta-feira, 21 de maio de 2009

Nas Zonas Inferiores

Livro "Nosso Lar"
Capítulo I
Eu guardava a impressão de haver perdido a idéia de tempo. A noção de espaço esvaíra-se-me de há muito.
Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos.
Desde quando me tornara joguete de forças irresistíveis? Impossível esclarecer.
Sentia-me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores, que os meus, respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro desconhecido estaria, a meus ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro.
A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de sol aquecessem de muito longe.
E a estranha viagem prosseguia... com que fim? Quem o poderia dizer? Apenas sabia que fugia sempre... O medo me impelia de roldão. Onde o lar, a esposa, os filhos? Perdera toda a noção de rumo. O receio do ignoto e o pavor da treva absorviam-me todas as faculdades de raciocínio, logo que me desprendera dos últimos laços físicos, em pleno sepulcro!
Atormentava-me a consciência: preferiria a ausência total da razão, o não ser.
De início, as lágrimas lavavam-me incessantemente o rosto e apenas, em minutos raros, felicitava-me a benção do sono. Interrompia-se, porém, bruscamente, a sensação de alívio. Seres monstruosos acordavam-me, irônicos; era imprescindível fugir deles.
Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer-se da poalha do mundo e, todavia, era tarde. Pensamentos angustiosos atritavam-me o cérebro. mal delineava projetos de solução, incidentes numerosos impeliam-me a considerações estonteantes. Em momento algum, o problema religioso surgiu tão profundo a meus olhos. Os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos, figuravam-se-me agora extremamente secundários para a vida humana. Significavam, a meu ver, valioso patrimônio nos planos da Terra, mas urgia reconhecer que a humanidade não se constitui de gerações transitórias e sim de Espíritos eternos, a caminho de gloriosa destinação. Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitação meramente intelectual. Esse algo é a fé, manifestação divina ao homem. Semelhante análise surgia, contudo, tardiamente. De fato, conhecia as letras do Velho Testamento e muita vez folheara o Evangelho; entretanto, era forçoso reconhecer que nunca procurara as letras sagradas com a luz do coração. Identificava-as através da crítica de escritores menos afeitos ao sentimento e à consciência, ou em pleno desacordo com às verdades essenciais. Noutras ocasiões, interpretava-as com o sacerdócio organizado, sem sair jamais do círculo de contradições, onde estacionara voluntariamente.
Em verdade, não fora um criminoso, no meu próprio conceito. A filosofia do imediatismo, porém, absorvera-me. A existência terrestre, que a morte transformara, não fora assinalada de lances diferentes da craveira comum.
Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranquilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção de tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência. Habitara a Terra, gozara-lhes os bens, colhera às bençãos da vida, mas não lhe retribuíra ceitil do débito enorme. Tivera pais, cuja generosidade e sacrifícios por mim nunca avaliei; esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egoísmo destruidor. Possuíra um lar que fechei a todos os que palmilhavam o deserto da angústia. Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa benção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade.
Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas. Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minhalma. Sufocara-os, criminosamente, no desejo incontido de bem estar. Não adestrara órgãos para a vida nova. Era justo, pois, que aí despertasse à maneira de aleijado que, restituído ao rio infinito da eternidade, não pudesse acompanhar senão compulsoriamente a carreira incessante das águas; ou como mendigo infeliz, que, exausto em pleno deserto, perambula à mercê impetuosos tufões.
Oh! Amigos da Terra! Quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.
Pode adquirir este livro na Livraria Espírita de sua cidade.

Mensagem de André Luiz (abertura do livro "Nosso Lar")

"A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é o jogo escuro das ilusões."
O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso.
Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.
Ele nos diz nesta mensagem que seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do infinito.
Uma existência - é um ato.
Um corpo - uma veste.
Um século - um dia
Um serviço - uma experiência
Um triunfo - uma aquisição
Uma morte - um sopro renovador.
Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?
E agora amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração
Que o Senhor nos abençõe.

Resumo da mensagem de abertura do livro "Nosso Lar".
Ditado por André Luiz
Psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Livro "Nosso Lar".

"Quando o servidor está pronto, o serviço aparece."

"Por vezes, o anonimato é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor."
"O esquecimento temporário usual na reencarnação funciona como benção da Divina Misericórdia."
André luiz usa de anonimato é apresentado como novo amigo e irmão na eternidade e não como o médico terrestre que foi, para que não ferisse corações amados, envolvidos ainda nos velhos mantos da ilusão.
No livro "Nosso Lar" André Luiz nos conta em detalhes à sua própria experiência.
Milhares de pessoas se interessam pelo espiritismo, pelos seus trabalhos, modalidades e experiências. Porém neste imenso campo de novidades o homem não deve se descuidar de si mesmo. (Orai e Vigiai).
Não basta doutrinar consciências alheias, fazer proselitismo por mais respeitável que seja, mas cogitar do conhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando-os por nossa vez, nos serviços do bem.
O homem não é um deserdado. É filho de Deus, em trabalho construtivo, envergando a roupagem da carne; aluno de escola benemérita, onde precisa aprender a elevar-se.
A luta humana é a sua oportunidade.
Que ninguém se descuide das necessidades próprias, no lugar que ocupa pela vontade do Senhor.
André Luiz vem nos contar que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência.
Vem nos lembrar que a Terra é oficina sagrada e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrívelengano a que submeteu o próprio coração.
Esta grandiosíssima obra é para ler, guardar suas páginas lembrando-as a cada passoda nossa vida pela terra, porque a experiência do André Luiz nos diz bem alto que não adinta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão, em quealquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em verdade, do Espiritismo e do Espiritualismo, mas, muito mais, de Espiritualidade.

Do Livro "Nosso Lar" resumo da mensagem de EMMANUEL.
Ditado pelo Espírito de André Luiz .
Psicografado por Francisco Cândido Xavier.

domingo, 17 de maio de 2009

De Nobre a Pobre

"O Principie Galitzin, o Marquês de B..., o Conde R... estavam reunidos no verão de 1862, nas águas de Hamburgo"
Uma noite, depois de haverem jantado muito tarde, passeavam eles no parque do cassino, quando perceberam uma pobre deitada num banco. Depois de se lhe aproximarem e interrogarem, convidaram-na a vir cear no hotel. Ela comeu com grande apetite, e, pouco depois, Galitzin, que era magnetizador, adormeceu-a. Qual não foi, porém, o espanto das pessoas presentes, quando profundamente adormecida, aquela que, na véspera só se exprimia em mau dialeto alemão, pôs-se a falar muito corretamente em francês, contando que, por punição, havia encarnado pobremente em vista de haver cometido um crime em sua vida precedente, no século XVIII. Habitava, então, um castelo na Bretanha, à borda do mar, no alto de um rochedo. Com grande precisão designou o lugar do crime.
Graças a essas indicações, o Príncipe Galitzin e o Marquês de B... puderam, mais tarde, e, separadamente, entregar-se a dois inquéritos, cujo resultado foi idêntico."
Dois velhos camponeses, entre as inúmeras criaturas entrevistadas, afirmaram se lembrar de que seus pais contavam que uma jovem e bela cortesã fizera perecer o esposo, jogando-o no mar.
Fonte: Correio Fraterno do ABC.Evangelho e Ação – Maio de 1999

O Nascimento da Doutrina Espírita

Aula 1

O Codificador Allan Kardec

“E eu rogarei ao Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê e não o conhece...o Pai enviará em meu nome, e esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João, XIV, 16 a 26).
Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou simplesmente Allan Kardec, foi o codificador da Doutrina Espírita. Antes de conhecermos melhor a vida deste professor francês, e como tornou-se o responsável pela Codificação da Doutrina Espírita, mostraremos como foi seu primeiro contato com o mundo espiritual, que serviu de marco inicial para o Espiritismo.
As mesas girantes
França, 1850: no início deste ano, surgiu no país europeu uma brincadeira que atraía nobres da sociedade parisiense. Acostumados às festas de salões, muitos franceses passaram a divertir-se com as chamadas “mesas girantes ou falantes”.
Tratava-se de mesinhas redondas de três pés, sobre as quais certas pessoas colocavam suas mãos e instantaneamente estes móveis começavam a girar e dar saltos, sem que ninguém fizesse alguma força.
Tudo parecia um fenômeno magnético, ou seja, produto de algum tipo de poder mental dos que se dispunham a brincar. O fenômeno então começou a ganhar proporções maiores e espalhou-se por outros países da Europa, chegando também na América. Desenvolveu-se uma forma de "conversar" com as mesinhas. Através de pancadas no chão, produzidas com os pés do objeto, formou-se um código de sinais, onde uma pancada seria "não"; duas, "sim", entre outros. Basicamente, as perguntas eram sobre futilidades, que em nada ajudavam a entender o que estava ocorrendo.
Foi então que uma senhora, chamada Emília de Girardim, veio a desenvolver um método de contato, que consistia de uma mesa que se movia ao redor de um eixo, lembrando uma roleta. Sobre a mesa, letras do alfabeto eram colocadas em círculo, além de números e os termos sim e não. No meio desta circunferência, havia uma agulha ou mesmo um ponteiro metálico, e então as pessoas envolvidas colocavam suas mãos sobre a borda da mesa. O móvel passava a girar, parando sob o ponteiro metálico a letra do alfabeto que viria a formar uma frase desta força invisível.
No decorrer dos questionamentos feitos ao fenômeno, descobriu-se que o mesmo era produzido por Espíritos que habitavam o mundo espiritual. Porém, ninguém tirou desta surpreendente descoberta a utilidade que ela trazia. Simplesmente o que importava era o fenômeno, o espetáculo, e não a causa do mesmo.
Kardec e os Espíritos
Em 1855, Hippolyte Léon Denizard Rivail, professor francês de Aritmética, Gramática, Física, Astronomia e Fisiologia e pesquisador do magnetismo, foi convidado por um amigo seu a ver de perto certas manifestações inexplicáveis que ocorriam nos salões da capital francesa. Rivail era discípulo de Pestalozzi, chamado de pai da pedagogia moderna, e casado com Amélie Gabrielle Boudet. Nascido em 03 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, já ouvira sobre o assunto das mesas girantes e quis entender bem o que estava acontecendo. Homem criterioso, Rivail não se
deixava levar por modismos e como estudioso do magnetismo humano acreditava que todos os acontecimentos poderiam estar ligados à ação das próprias pessoas envolvidas, e não de uma possível intervenção espiritual.
O professor então participou de algumas sessões, e algo começou a intrigá-lo. Percebeu que muitas das respostas emitidas através daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural e social dos que faziam parte do “espetáculo”. Como os móveis, por si só, não poderiam mover-se, fatalmente havia algum tipo de inteligência invisível atuando sobre os mesmos, e respondendo aos questionamentos dos presentes.
Rivail presenciava a afirmação daqueles que se manifestavam, dizendo-se almas dos homens que viveram sobre a Terra. Foi então, que uma das mensagens foi dirigida ao professor. Um ser invisível disse-lhe ser um Espírito chamado Verdade e que ele, Rivail, tinha uma missão a desenvolver, que seria a codificação de uma nova doutrina .
Atento aos dizeres do Espírito, e depois de muitos questionamentos à entidade, pois não era homem de impressionar-se com elogios, resolveu aceitar a tarefa que lhe fora incumbida.
O Espírito de Verdade disse-lhe ser uma falange de Espíritos superiores que vinha até aos homens cumprir a promessa de Jesus, no Evangelho de João, capítulo XIV; versículos 15 a 26: “E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque habita convosco e estará em vós... Mas, aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.
Através dos Espíritos, Rivail descobriu que em uma de suas encarnações anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan Kardec. Foi então que resolveu adotar este pseudônimo durante a codificação da nova doutrina, que viria a se chamar Doutrina Espírita ou Espiritismo. Kardec assim procedeu para que as pessoas, ao tomarem conhecimento dos novos ensinamentos espirituais, não os aceitassem por ser ele, um conhecido educador, quem estivesse divulgando. Mas sim, que todos os que tivessem contato com a boa nova a aceitassem pelo seu teor racional e sua metodologia objetiva, independente de quem a divulgasse ou a apoiasse.

O que é a Doutrina Espírita
A Codificação
A partir daí foram 14 anos de organização da Doutrina Espírita. No início, para receber dos Espíritos as respostas sobre os objetivos de suas comunicações e os novos ensinamentos, Kardec utilizou um novo mecanismo, a chamada cesta-pião: um tipo de cesta que tinha em seu centro um lápis. Nas bordas das cestas, os médiuns, pessoas com capacidade de receber mais ostensivamente a influência dos Espíritos, colocavam suas mãos, e através de movimentos involuntários, as frases-respostas iam se formando. Julie e Caroline Baudin, duas adolescentes de 14 e 16 anos respectivamente, foram as médiuns mais utilizadas por Kardec no início.
Com o decorrer do tempo, a cesta-pião foi dando lugar à utilização das próprias mãos dos médiuns, fenômeno que ficou conhecido como psicografia.
Todas as perguntas e respostas feitas por Kardec aos Espíritos eram revisadas e analisadas várias vezes, dentro do bom senso necessário para tal. As mesmas perguntas respondidas pelos Espíritos através das médiuns eram submetidas a outros médiuns, em várias partes da Europa e América. Isso para que as colocações dos Espíritos tivessem a credibilidade necessária, pois estes médiuns não mantinham contato entre eles, somente com Kardec. Consequentemente, as respostas, se iguais, demonstravam que vinham da mesma fonte espiritual. Lembremos sempre que as perguntas e respostas de cunho moral eram submetidas a comparações com o Evangelho de Jesus, exemplo primordial para a boa conduta. Assim como as respostas sobre ciência e filosofia deveriam ter como marco a objetividade e a razão.
Este controle rígido de tudo o que vinha de informações do mundo espiritual ficou conhecido por “Controle Universal dos Espíritos” (ver a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, item II). Disto, estabeleceu-se dentro da Doutrina Espírita que qualquer informação vinda do plano espiritual só teria validade para o Espiritismo se fosse constatada em vários lugares, através de diversos médiuns, que não mantivessem contato entre si. Fora isso, toda comunicação espiritual será uma opinião particular do Espírito comunicante, por mais conhecido que este seja.
Com todo um esquema coerentemente montado, Allan Kardec preparou o lançamento das cinco Obras Básicas da Doutrina Espírita, a Codificação, tendo início em 1857 com o lançamento de O Livro dos Espíritos. Estes livros contêm toda a teoria e prática da doutrina, os princípios básicos e as orientações dos Espíritos sobre o mundo espiritual e sua constante influenciação sobre o mundo material.
Durante a codificação, Kardec lançou um periódico mensal chamado Revista Espírita, em 1858. Nele, comentava notícias, fenômenos mediúnicos e informava aos adeptos da nova doutrina o crescimento da mesma e sua divulgação. Servia várias vezes como fórum de debates doutrinários, entre partidários e contrários ao Espiritismo. A Revista Espírita foi a semente da imprensa doutrinária.
No mesmo ano, Kardec viria a fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Constituída legalmente, a entidade passou a ser a sociedade central do Espiritismo, local de estudos e incentivadora da formação de novos grupos.
Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, aos 65 anos, vítima de um aneurisma. Sua persistência e estudo constantes foram essenciais para a elaboração do movimento espírita e organização dos ensinos do Espírito de Verdade.

Resumo das Obras Básicas da Doutrina Espírita
· O Livro dos Espíritos: lançado por Allan Kardec em 1857, é o principal livro da Doutrina Espírita. Podemos chamá-lo de espinha dorsal, pois sustenta todas as outras obras doutrinárias. Divide-se em quatro partes: “As causas primárias”; “Mundo espírita ou dos Espíritos”; “As leis morais”; e “Esperanças e consolações”. É composto de 1018 perguntas feitas por Kardec aos Espíritos superiores responsáveis pela vinda do Espiritismo aos homens. O que é Deus? De onde viemos? Para aonde vamos? O que estamos fazendo na Terra? Estas são algumas das questões respondidas pela falange do Espírito de Verdade.
· O Livro dos Médiuns: teve seu lançamento em 1861. Nele, Allan Kardec mostra os benefícios e os perigos da mediunidade, ou seja, o canal que liga o homem encarnado ao mundo espiritual. Demonstra que embora todos os seres vivos possuam esta abertura de contato, há aqueles que a têm de uma forma mais abrangente. Kardec e os Espíritos superiores alertam sobre a sutileza desta faculdade, para que uma pessoa possa contatar os Espíritos sem ser prejudicada por entidades maléficas, descontrolando sua mediunidade.
· O Evangelho Segundo o Espiritismo: editada em 1864, esta obra pode ser entendida como a parte moral da Doutrina Espírita. Nela, Kardec e os Espíritos superiores comentam numa linguagem acessível as principais passagens da vida de Jesus. Explicam suas parábolas e demonstram a grandiosidade do Mestre nos seus ensinos, dando-nos, além disso, conselhos importantes sobre nossa conduta diária frente às dificuldades e dúvidas da vida.
· O Céu e o Inferno: Kardec lançou este livro em 1865. Através da evocação dos Espíritos de pessoas das mais diferentes classes sociais, crenças e condutas, demonstra-nos como foi a chegada e a vivência espiritual destes seres após o seu desencarne. Rainhas, camponeses, religiosos, assassinos, ignorantes e intelectuais são alguns dos que contam o que os aguardava depois de suas atitudes terrenas e como poderão ser suas vidas futuras.
· A Gênese: nesta obra, de 1868, Kardec explica a Gênesis Bíblica, a formação do Universo, demonstrando a coerência da mesma quando confrontada com os conhecimentos científicos, despida das alegorias próprias da época em que foi escrita. Expõe o que são os milagres, explicados pelas leis da natureza, produtos da modificação dos fluidos que nos cercam. Enfim, faz a religião e a ciência caminharem juntas, fortalecendo a fé dos que crêem em Deus.

Perguntas

1) Em que país, data e ano foi lançado o primeiro livro da Codificação Espírita? Qual era o nome da obra?
2) Quais são os cinco livros Básicos da Doutrina Espírita?
3) Qual o livro básico da Codificação que cita as principais passagens da vida de Jesus e as comenta?
4) Há um livro da Codificação que fala principalmente sobre mediunidade. Qual é?
5) Coloque (V) Verdadeiro ou (F) Falso
a) ( ) A Doutrina Espírita é uma religião cristã.
b) ( ) A promessa do Consolador Prometido está no Evangelho segundo João, cap. 14; vers 16 a 26.
c) ( ) Controle Universal dos Espíritos é um método para controlar as reencarnações.
d) ( ) Allan Kardec era médico.

Aula 2

Princípios Básicos da Doutrina Espírita

A Doutrina Espírita tem como princípios básicos de sua crença:
2.1 A existência de Deus;
2.2 Existência do Espírito, sua sobrevivência após a morte e sua comunicação com o mundo material;
2.3 Reencarnação;
2.4 Evolução moral e intelectual dos espíritos;
2.5 Lei de Causa e Efeito.
Podemos observar, então, que alguns desses princípios encontram-se em todas as religiões cristãs. Ou seja, tanto o Catolicismo, como o Protestantismo e suas diversas ramificações, crêem em Deus e na existência de alguma forma de uma vida espiritual. Isso, porque Jesus sempre deixou muito claro ambos, falando em suas parábolas e em seus ensinamentos.
Mas, por que existe Deus? Se há mundo espiritual, como é a vida lá? E vivendo no mundo espiritual, pode se fazer contato com o mundo material? Vivemos uma só vida? Todos temos a mesma evolução espiritual? O que fazemos, de bom ou ruim, recebemos de volta?
Estas perguntas que sempre nos atormentaram têm uma explicação racional na Doutrina Espírita. E veremos que para todas elas existe algo a respeito na Bíblia, que com a luz do Espiritismo podemos compreender.

2.1 A existência de Deus
A existência de Deus é o primeiro assunto de “O Livro dos Espíritos”. Allan Kardec e a falange do Espírito de Verdade entenderam a necessidade de nos falar primordialmente sobre isso, pois crer em Deus, não só emocionalmente, mas também racionalmente, irá nos favorecer a compreensão de toda sua criação. Consequentemente, conseguiremos saber o porquê da vida e qual nosso objetivo de existência. Abaixo, reproduzimos as primeiras perguntas e respostas da obra citada:
1. Que é Deus?
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.
2. Que se deve entender por infinito?
O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo que é desconhecido é
infinito.
3. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?
Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens.
Deus é infinito em Suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus
é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma outra que não está mais do que a primeira.

Provas da existência de Deus
4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.
Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.
5. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?
Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.
Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.
7. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.
A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.
8. Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!
O poder de uma inteligência se julga pelas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, consequentemente, uma inteligência superior à Humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe dêem.
Com essas questões, vemos qual o entendimento da Doutrina Espírita sobre Deus.
Na Bíblia, há muitas passagens falando a respeito da existência do Pai criador. Porém, uma das mais importantes encontra-se na “Oração do Pai Nosso” (Mateus, VI; versículos 9 a 13), onde Jesus nos ensina a orar, agradecendo e pedindo a Deus a luz para nossa existência.

2.2 Existência do Espírito, sua sobrevivência após a morte e
sua comunicação com o mundo material
153. Em que sentido se deve entender a vida eterna?
A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma à vida eterna.”
A Doutrina Espírita nos explica que o Espírito é eterno, como afirmado na questão acima de O Livro dos Espíritos.
A existência da vida espiritual é muito citada por Jesus nos Evangelhos. E se existe essa vida, lá vivem os Espíritos. Mas o que são os Espíritos? Vejamos o que diz O Livro dos Espíritos:

23. Que é o Espírito?
O princípio inteligente do Universo.
a) - Qual a natureza íntima do Espírito?
Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”
24. Espírito é sinônimo de inteligência?
A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.
25. O Espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como ascores o são da luz e o som o é do ar?
São distintos uma do outro; mas, a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.”
27. Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?
Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal...
A Doutrina Espírita também nos ensina que os Espíritos nada mais são do que as almas dos homens que materialmente viveram na Terra. Ou seja: quando encarnado, o Espírito tem a denominação de alma; ao desencarnar-se e voltar à vida espiritual, é denominado Espírito. Esta diferença de terminologia existe apenas para diferenciar um estado do outro. Dessa forma, existindo o mundo espiritual e os Espíritos, estes têm a condição de se comunicarem com os encarnados. Há muitas passagens nas Escrituras Sagradas (Bíblia) que falam sobre esse intercâmbio (adiante, conheceremos uma delas).
Deus nunca parou de criar Espíritos, povoando diversos mundos habitados no universo. É Jesus mesmo quem diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João, XIV;2). E todos os espíritos são criados simples e ignorantes. Ou seja, nenhum de nós teve privilégios ao sermos criados. Coube a cada um de nós, através de cada reencarnação, adquirir experiências que nos tornaram como somos hoje.

2.3 A reencarnação
Compreendemos, assim, que nós mesmos conquistamos nossa evolução, vida após vida, encarnação após encarnação. Todas as experiências que vivenciamos, sejam boas ou más, servirão para compor nossa história espiritual.
Isso explica, por exemplo, porque há pessoas que têm tendências para um desenvolvimento precoce para a música, pintura, matemática e demais artes sem terem tido nenhum incentivo para isso nesta existência.
Por outro lado, há os que desde crianças têm o chamado popularmente “gênio forte”, onde impera a violência, a impaciência, o egoísmo. Tanto para o bem quanto para o mal estas tendências nada mais são do que a demonstração do que compõe a nossa história espiritual, traduzida e apresentada como inclinações que temos na vida presente. Caberá a cada um de nós alimentarmos estas vocações (se forem para o bem) ou cerceá-las (se forem para o mal). E é nisso que resulta a sabedoria de Deus na reencarnação. Nela, nós mesmos colheremos o que de bom ou ruim semearmos.
Com isso, a Doutrina Espírita põe fim às penas eternas, incoerentes com a bondade e misericórdia suprema do Pai. Pois se nós, seres imperfeitos, sabemos perdoar e dar novas oportunidades a nossos filhos, muito mais o fará Deus. Ao invés de jogar eternamente no inferno quem errou, dá novas oportunidades de vida, onde se colherá o que se plantou, aprendendo o melhor caminho a seguir.
Além disso, a reencarnação consegue explicar os porquês de problemas de nascença, ou de problemas que nos acompanham no decorrer da vida. Se as causas não se acharem presentes na atualidade, só podem ser frutos de atitudes cometidas em outras existências. Senão, onde estaria a justiça de Deus, que deu saúde e paz a uns e desgraças a outros? Só a reencarnação mostra como o Pai é sábio e justo, pois sua Lei espiritual dá a cada um segundo suas obras, visando sempre um único destino para todos: a felicidade eterna.
Na Bíblia, no Evangelho segundo Mateus, XVII; versículos 1 a 13, na passagem denominada “Transfiguração”, há vários elementos que nos comprovam o que a Doutrina Espírita nos ensina:
“Tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, seu irmão, e os conduziu em particular , a um alto monte. E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu com o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele... E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus respondendo-lhes, disse: Em verdade, Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os discípulos que ele lhes falara de João Batista”.
Aqui, podemos observar a existência do mundo espiritual, a comunicação dos Espíritos e a reencarnação. Jesus deixa bem claro que João Batista, seu primo e pregador, que havia vivido junto com ele, antes de ser preso e decapitado pelo rei Herodes, foi na verdade a reencarnação do profeta Elias, que vivera há mais de 900 anos antes de Jesus. Naquele momento, depois de seu desencarne, João apresentava-se a Jesus com a aparência de Elias, juntamente com Moisés, outro profeta desencarnado há 1700 anos.
Abaixo, mais algumas passagens da Bíblia que falam sobre a reencarnação e a confusão que os Judeus faziam com ressurreição. Isso porque, reencarnação é o renascimento do Espírito para viver em um novo corpo, que nada tem a ver com o anterior. É o que acredita a Doutrina Espírita. Já ressurreição é a volta do Espírito no mesmo corpo que havia habitado, mesmo que esse já tenha sido decomposto, que é o que crêem outras religiões.
Essa confusão fez com que Jesus não falasse diretamente da reencarnação para o povo, mas sim apenas com seus discípulos mais próximos, que teriam uma melhor condição espiritual de compreender o processo que envolve a reencarnação. Mas mesmo entre eles, havia dificuldade para o entendimento completo. Por isso, Jesus deixa muitas vezes subtendido o assunto. Vejamos em Marcos, VI; 14 e 15 / Lucas, IX; 7 a 9:
“Jesus expulsava muitos demônios e curava enfermos. E ouviu isto o rei Herodes (por que o nome de Jesus se tornara notório), e disse: João, o que batizava, ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele. E outros diziam: Ele é Elias, ou um dos profetas. Herodes, porém, disse: Este é João, que mandei degolar, e ressuscitou dos mortos”.
Em Marcos, VIII; 27:
“Jesus interrogou a seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? E eles disseram: Dizem que é João Batista, outros que é Elias; e outros, um dos profetas”.
Nestas duas passagens, não podiam estar se referindo à ressurreição, mas sim à reencarnação, pois a ressurreição traria João, ou outros dos profetas, com o mesmo corpo de antigamente. E Jesus tinha nascido, seus pais eram conhecidos, e portanto, não poderia ser a ressurreição de nenhum deles. Mas sim, a reencarnação. O que falavam as pessoas, o rei Herodes e os discípulos demonstra a confusão entre ressurreição e reencarnação, mas deixa claro que a crença na volta do Espírito à vida era conhecida, mas não compreendida.
Em João, IX; 1 a 41:
“Jesus viu um cego de nascença, e seus discípulos lhe perguntaram: Rabi, quem pecou para que esse homem nascesse cego, ele ou seus pais? Jesus então lhes disse: Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi assim para que se manifestasse nele as obras de Deus”.
Passagem que demonstra mais claramente ainda que os discípulos e Jesus conversavam sobre a reencarnação. A pergunta dos apóstolos sobre quem teria pecado para que aquele homem nascesse assim nos indica que havia uma dúvida sobre o processo reencarnatório. E mais, se o cego era de nascença, como ele poderia ter pecado, senão em outra vida?
E Jesus, então, ensina que não se tratava de uma expiação, ou seja, do pagamento de um erro de outras vidas; mas que aquela situação era uma prova por qual passava o Espírito, e que teria fim com o “milagre” de Jesus. Falaremos mais sobre provas e expiações no item “Lei de Causa e Efeito”.

2.4 Evolução moral e intelectual dos espíritos

Explica-nos a Doutrina Espírita que muitos são os níveis de evolução dos Espíritos. Cada Espírito escolhe o caminho que deseja seguir, seja no bem ou no mal; no estudo ou na ignorância, até que todos possam atingir o progresso.
A Doutrina nos ensina que devido a esta diferença de evolução existem milhares de mundos materiais que têm vida, e que eles estão divididos em cinco categorias. Os Espíritos encarnados habitam os mesmos, dependendo de sua condição moral/intelectual.
Esses mundos são:
· Primitivos: onde a ignorância é quase que total. Como exemplo, podemos citar a época dos homens das cavernas;
· De Provas e Expiações: similar à Terra, onde a ignorância, o mal, ainda superam o bem, embora a tecnologia e a inteligência estejam bem desenvolvidas;
· De Regeneração: próximo estágio do nosso planeta, onde o bem, a compreensão, superarão a ignorância;
· Felizes: orbes em que praticamente a ignorância inexiste, e as pessoas vivem para o bem da sociedade, buscando um progresso em conjunto;
· Divinos: locais onde só existe o entendimento das Leis divinas, não havendo lugar para o mal.
Para passar de um mundo para o outro, são necessários milhares de anos de dedicação e muitas vezes de sofrimento por parte dos Espíritos encarnados. Porém, o fim sempre será a evolução material e espiritual do planeta.
E nesse processo evolutivo, há diversidades de estágios dentro de cada mundo, embora não sejam muito grandes.
Na Terra, por exemplo, vemos diferenças de atitudes nas pessoas, mostrando uma escala de adiantamento espiritual. Mas, todos ainda estamos limitados a uma condição: a ignorância supera a compreensão.
Jesus comenta sobre esta diversidade na conhecida "Parábola do Semeador", que está em Mateus, XIII; 4 a 9:
“Eis que o semeador saiu a semear. E quando semeava, uma parte caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na. E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta”.
O semeador da Parábola é Jesus. As sementes, seus ensinos. A parte que caiu ao pé do caminho simboliza as pessoas que escutam a palavra de Deus mas as desdenham, buscando apenas os interesses materiais, simbolizados pelas aves.
A parte dos pedregais simboliza as pessoas que escutam a palavra de Deus e ficam incentivadas a segui-las. No entanto, vão “com muita sede ao pote”, criando uma fé cega, sem bases racionais. Assim, não criam raízes. E quando vêm os problemas a que todos estamos sujeitos, simbolizados pelo sol, revoltam-se contra Deus, porque não compreendiam verdadeiramente seus ensinos.
A outra parte fala dos que escutam a palavra dos Evangelhos, até as acham importantes, mas as preocupações com o dinheiro e o poder, simbolizadas pelos espinhos, sufocam qualquer iniciativa de buscar a compreensão espiritual.
Por fim, a parte que caiu em terra boa fala das pessoas que escutam os ensinos e procuram praticá-los, visando um entendimento dos porquês da vida e da prática do bem ao próximo. Mas diz Jesus que até entre esses haverá diferenças, pois todos temos nossos limites. E a capacidade de praticar o bem difere de pessoa para pessoa.
Assim, caberá a cada um de nós escolhermos qual estágio gostaríamos de estar. Pois a semeadura de Jesus já está aí há mais de 2000 anos. Colhê-la ou não será uma escolha particular.

2.5 A Lei de Causa e Efeito

Tudo o que fizermos ao próximo, de bem ou mal, retornará para nós. É a chamada Lei de Ação e Reação, plantio e colheita. Tem um exemplo na Lei da Física, explicada por Newton, onde toda ação tem uma reação contrária, de mesma intensidade e sentido oposto.
Nosso mundo é de segunda categoria, classificado como de Provas e Expiações.
As expiações são a colheita nesta ou nas próximas existências do erro que tenhamos praticado em outras vidas. Não é um castigo, pois Deus não castiga. É sim a oportunidade de compreendermos nossos atos indevidos, sofrendo em nós mesmos o que fizemos outro sofrer. Com isso, nosso espírito absorve a experiência, a terá a tendência de não mais praticá-lo.
Jesus fala da Expiação na passagem onde ocorre sua prisão, que está em Mateus, XXVI; 52.
“Então, disse Jesus a Pedro: Mete no seu lugar a tua espada: porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”.
Nesta passagem, o apóstolo Pedro tentava defender Jesus, ameaçando um guarda com uma espada. E até neste difícil momento, Jesus aproveitou para nos ensinar o quanto devemos pensar antes de agir. Caso contrário, não poderemos reclamar do que nos espera no futuro.
As provas são as situações que ocorrem em nossa vida para ajudar-nos a desenvolvermos a paciência, a inteligência, a humildade e a perseverança. Não têm nada a ver com atos cometidos em outras vidas. Deus as coloca em nosso caminho com o intuito de nos incentivar no desenvolvimento de nossos sentimentos e habilidades, fazendo-nos ter “jogo de cintura” e sensatez frente aos percalços da vida.

O Perispírito e o Fluido Universal
O Espírito, por ser de natureza abstrata, não tem forma. Por isso, reveste-se de um elemento fluídico, semimaterial, chamado Perispírito.
Encarnado ou desencarnado, o Espírito reveste-se desta “roupagem”. Na verdade, o Perispírito é o elo de ligação entre o Espírito e a matéria. Tem natureza fluídica, sendo uma modificação do Fluido Universal. O Fluido Universal é a base de todos os elementos materiais do universo. Nossos cientistas contemporâneos buscam incessantemente comprovar a existência de um elemento básico de tudo que existe no campo material. Este elemento é chamado pela Doutrina de Fluido Universal.
Pode o Perispírito ficar ou não visível e/ou tangível, porém, sempre estará presente no Espírito em sua caminhada evolutiva. Abaixo, algumas questões sobre o assunto em “O Livro dos Espíritos”:
93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?
Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.
Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.
94. D e onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.

Os médiuns
A mediunidade é o meio pelo qual os Espíritos têm condições de influenciar diretamente os encarnados, sejam estas influências boas ou más. Portanto, todos temos alguma mediunidade, pois todos sofremos influenciações do mundo espiritual. Porém, há uma diferença em ter mediunidade e ser um médium com possibilidades de perceber mais claramente a presença dos Espíritos.
Em O Livro dos Médiuns, capítulo XIV, item 159, Allan Kardec define os médiuns da seguinte forma:
“159. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações.
“As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos. “
*Allan Kardec não cita os médiuns psicofônicos, pois durante a Codificação os chamados médiuns “falantes” não eram tão comuns, ao contrário do que acontece hoje.

Perguntas
1) Quais são os princípios básicos da Doutrina Espírita?
2) O Espírito é a inteligência? Comente sua resposta.
3) Para que serve o perispírito? Do que ele é formado?
4) Cite uma passagem da Bíblia onde pode se entender a reencarnação.
5) Coloque (V) Verdadeiro ou (F) Falso
a) ( ) Nem todo o homem tem mediunidade.
b) ( ) Os fluidos são a parte inteligente do Universo.
c) ( ) Mundo de Regeneração é o estágio em que se encontra a Terra.
d) ( ) A Lei de Ação e Reação contribui para o progresso do Espírito.


Aula 3

O que é um centro espírita
Existe uma confusão muito grande a respeito do que é ou não é Doutrina Espírita ou Espiritismo. Isto porque há pessoas que não sabem que as palavras “espírita” e “espiritismo” foram criadas em 1857, na França, pelo codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec. Somente deveriam utilizarem-se destes termos os locais religiosos ou pessoas que seguissem os postulados desta doutrina.
Assim, cultos e religiões que de alguma forma têm em suas práticas a comunicação de Espíritos e a crença na reencarnação são confundidas erroneamente com o Espiritismo.
Na verdade, embora mereçam todo o respeito dos espíritas verdadeiros, estas seitas são adeptas do espiritualismo ou esoterismo, e não do Espiritismo.
Todos aqueles que acreditam na existência do Espírito são espiritualistas. Mas nem todos os espiritualistas são espíritas, praticantes do Espiritismo.
Para que uma casa religiosa seja espírita, ela deve seguir os ensinamentos contidos nas Obras Básicas da Doutrina Espírita e no Evangelho de Jesus. Geralmente, os locais espíritas recebem o nome de: Centro, Grupo, Casa, Sociedade, Instituição ou Núcleo Espírita. Deve ser legalmente constituído, de acordo com as leis vigentes no país em que está instalado. Mesmo ostentando este nome, quem os visita necessita estar atento para quais as atividades e as formas como as mesmas são praticadas por seus dirigentes e auxiliares, para que se tenha a certeza de estar em um centro espírita.
Mostraremos abaixo, o que se encontra e o que não deve ser encontrado em uma casa espírita verdadeira.
Palestras x Explanações e orações ao som de músicas, batuques, atabaques
Todo centro espírita tem o seu momento de esclarecimento doutrinário. As exposições geralmente são sobre a Codificação espírita e o Evangelho de Jesus, em uma ligação direta com nosso cotidiano. Não há nenhum ritual antes dos trabalhos, a não ser uma prece evocando a proteção de Jesus e dos bons Espíritos (geralmente, a oração é feita em pensamento). Em algumas oportunidades, antes ou no final das palestras, alguns grupos fazem a apresentação de corais musicais, quase sempre formados por grupos de jovens. Porém, este tipo de procedimento não é aconselhável, sendo indicado que seja praticado em datas e horários diferentes dos trabalhos espirituais e de esclarecimento ao público, exatamente para se evitar confusões e mal-entendidos.
O Espiritismo não utiliza instrumentos musicais para exortar o público ou evocar Espíritos. Não há o uso de qualquer instrumento durante os trabalhos.
Trajes normais x Trajes especiais
Os trabalhadores de uma casa espírita trajam-se normalmente, de forma simples. A discrição deve fazer parte dos que trabalham no local, pois ali estão para auxiliar as pessoas que buscam orientação para seus problemas materiais e espirituais.
O Espiritismo não tem roupas especiais para os dias de trabalhos ou mesmo no dia-a-dia dos seus adeptos. Enfeites, amuletos, colares, vestimentas com cores que significariam o bem (branca) ou o mal (negra, vermelha) não têm fundamento para o espírita.
Inexistência de rituais, amuletos e imagens x Presença de rituais e/ou sacrifícios de animais
O verdadeiro centro espírita não pratica em suas atividades nenhum tipo de ritual. A Doutrina Espírita segue o que o Mestre Jesus ensinou: que Deus é Espírito, e deve ser adorado em espírito e verdade. Portanto, sem a necessidade de nada material para contatarmos com a espiritualidade, ou ainda: ajoelhar-se frente a algo ou alguém, beijar a mão ou louvar os responsáveis pela casa, benzer-se, sentar-se no chão ou ficar levantando e sentando durante os trabalhos, proferir determinadas palavras (mantras) para evocar os Espíritos.
Nas sedes dos verdadeiros centros espíritas não são encontradas imagens de santos ou personalidades, amuletos de sorte, figuras que afastam ou atraem maus Espíritos, incensos, velas e tudo o mais que seja material e que teoricamente serviria de ligação com o mundo espiritual. O Espiritismo é contrário a qualquer tipo de sacrifício animal. Espíritos que pedem este tipo de atividade são Espíritos atrasados, ignorantes da Lei de Deus e muitas vezes maléficos, que podem prejudicar a vida de quem dá ouvidos aos seus baixos desejos.
Comunicação particular com os Espíritos x Comunicação de Espíritos em público
Os grupos espíritas têm reuniões específicas e íntimas para que os trabalhadores da casa, aptos e preparados durante longos estudos para tal, possam comunicar-se com os Espíritos. E através deles, obter informações do mundo espiritual, orientações e mesmo ajudar no afastamento de perturbações espirituais que porventura estejam prejudicando alguém. Todo este cuidado baseia-se na orientação dos próprios Espíritos superiores, responsáveis pela elaboração do Espiritismo, como também no alerta de João, o Evangelista, que em sua 1ª Epístola, capítulo IV, versículo 1, diz: “Amados, não creiais em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus”. Agindo assim, o centro espírita evita o máximo possível a influência de Espíritos zombeteiros e maldosos, que muitas vezes vêem neste contato com os encarnados a oportunidade de tecer comentários mentirosos e doutrinas esdrúxulas. A seriedade de reuniões fechadas os intimida, favorecendo a presença dos Espíritos esclarecidos.
Há alguns tipos de trabalhos mediúnicos, principalmente de psicografia (escrita dos Espíritos através de médiuns), onde pessoas levam até lá o nome de entes desencarnados para tentarem a comunicação dos mesmos através da mediunidade, e ficam observando a manifestação. O médium Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier, da cidade mineira de Uberaba, é um destes exemplos. Porém, nestes casos, o Espírito não se comunica diretamente com seu parente. Apenas influencia o médium, que escreverá, de forma discreta e ordenada, a mensagem do além.
A Doutrina Espírita é contrária a manifestação pública dos Espíritos, principalmente se for cercada de curiosidades e interesses materiais, ao invés do bom senso que deve permear toda comunicação espiritual. Há locais em que os médiuns recebem seus “guias” ou “Espíritos protetores”, teoricamente responsáveis pelo funcionamento da casa, e orientam os consulentes sobre qualquer tipo de dúvida. Muitas vezes, as respostas dadas por este tipo de Espírito não têm base científica ou doutrinária alguma, seguindo apenas seu próprio conhecimento, que pode ser limitado. Em vários destes lugares em que há a manifestação pública, as entidades espirituais são servidas de fumo, bebida, comida, ingeridas pelo médium incorporado. Com isso, mostram a limitação destes Espíritos, ainda muito apegados aos vícios e prazeres materiais.
Desenvolvimento cauteloso da mediunidade x Desenvolvimento mediúnico forçado
A Doutrina Espírita explica que todo ser vivo tem mediunidade, pois é através dela que os encarnados recebem influências boas e más do mundo espiritual, que servirão de ajuda ou aprendizado no decorrer de suas existências terrenas. São chamados de médiuns aqueles capazes de proporcionar a manifestação dos espíritos. O Espiritismo adverte que para poder ampliar esta ligação com o mundo espiritual, é necessário que o médium passe por uma série de preparativos. Anos de estudo, maturidade, modificação moral constante, vida regrada, abstendo-se dos vícios mais grosseiros, como o fumo e a bebida, são algumas das regras básicas para que o indivíduo possa vir a desenvolver corretamente sua mediunidade, e estão contidas em “O Livro dos Médiuns”. Os centros espíritas verdadeiros não aconselham a pessoa a trabalhar mediunicamente sem antes passar por este período e preparação citados. Muito menos diz que alguém “precisa” desenvolver a mediunidade. Ninguém é obrigado a nada, afirma a Doutrina. Todos têm seu livre-arbítrio, e mesmo que o ser tenha um canal mediúnico amplo, próprio para o desenvolvimento da mediunidade, e não quiser desenvolvê-lo, não há problema. Tudo o que é forçado é prejudicial ao homem.
Se ao chegar em um ambiente espiritualista lhe afirmarem que sua mediunidade “precisa” ser desenvolvida, caso contrário você sofrerá as consequências materiais e espirituais; sua vida será um transtorno; que os Espíritos estão lhe chamando para o trabalho; que esta é a sua missão; com certeza este não é um local que segue a Doutrina Espírita. Há seitas e religiões afro-brasileiras que obrigam a pessoa a desenvolver-se mediunicamente e depois as ameaçam com terríveis problemas futuros se elas deixarem de “trabalhar”. Isto gera angústia, medo e desespero nos envolvidos, que geralmente acabam vítimas de graves obsessões (influência maléfica persistente de um Espírito atrasado sobre outro ser). Cuidado!

Não há promessas de curas x Promessas de cura
O verdadeiro centro espírita não promete a cura para quem o procura. A Doutrina afirma que a cura de uma influência espiritual ou doença material depende de uma série de fatores, entre os quais a modificação moral do enfermo, sua necessidade, seus problemas relacionados com encarnações anteriores e acima de tudo, se há ou não a permissão de Deus para que haja a solução da dificuldade. Muitas vezes, o sofrimento é um período necessário para o ser refletir sobre sua existência, e o único que sabe quando é a hora disso terminar é o Criador.O que o centro espírita faz é um pronto-socorro aos necessitados de amparo e esclarecimento, e de todas as formas possíveis (orações, tratamentos espirituais, passes, orientações morais e materiais) tenta minimizar o sofrimento alheio, rogando a Jesus que se o Pai permitir, que interceda junto ao indivíduo.
Qualquer lugar que prometa a cura de problemas espirituais ou materiais, sem levar em consideração os fatores já citados, não é um local espírita. Condicionar uma cura à frequência exclusiva naquele ambiente, ao pagamento de dinheiro ou bens materiais, ou mesmo à “força da casa” não tem base no Espiritismo e foge do bom senso que regula as Leis de Deus. Estas, não podem ser modificadas de acordo com nossa vontade. Por isso, prometer algo que não depende apenas de nós mesmos beira a irresponsabilidade e pode levar a pessoa desesperada ao desequilíbrio total ou à descrença em Deus.

Passes simples x Passes com movimentos e gestos bruscos
O passe é um método utilizado dentro dos centros espíritas. Nada mais é do que a simples imposição das mãos de médiuns sobre a fronte de outras pessoas, transmitindo-lhes fluidos magnéticos e espirituais (energias positivas do próprio médium e de bons Espíritos), no intuito de fortalecer-lhes o corpo e a parte espiritual. Jesus usou muito deste artifício ao curar os enfermos que o procuravam. Tem duração em média de 30 segundos a 01 minuto. Geralmente, é aplicado dentro de salas específicas, após a palestra, individual ou coletivamente, com o público sentado e o passista de pé. Apenas são feitas orações, em pensamento, pelos médiuns, rogando o amparo de Jesus àqueles que estão recebendo os fluidos. Os passistas não ficam incorporados pelos Espíritos, apenas recebem sua influência mental e fluídica.Importante: nunca há necessidade do passista tocar a pessoa que recebe o passe. Toques, apertos, carícias têm grandes possibilidades de serem mal-interpretados, gerando confusões, e por isso são dispensados no centro espírita.
Locais em que os passes são aplicados com movimentos bruscos, utilizando objetos, baforadas de cigarro ou charuto, estalando-se os dedos, repetindo mantras e cânticos, tocando várias partes do corpo do receptor não são centros espíritas. Passistas que transmitem os passes incorporados por entidades, fazendo orientações ou conversando normalemente, não são médiuns espíritas.
Todo o serviço espiritual é gratuito x Cobrança pela ajuda espiritual
O verdadeiro centro espírita não cobra nenhuma orientação ou ajuda espiritual de seu público, nem condiciona o recebimento de curas ou salvação às doações. Dar de graça o que de graça receber, ensinou Jesus, em alusão aos conhecimentos espirituais. Não aceita dinheiro por serviços prestados mediunicamente. Seus dirigentes e trabalhadores têm profissões próprias, que lhes dão o sustento financeiro necessário para suas vidas. Quem sustenta materialmente a casa espírita são seus trabalhadores/sócios, através de doações mensais, destinadas ao pagamento de aluguéis, manutenção, divulgação doutrinária e aquisição de alimentos, roupas e demais objetos a serem distribuídos às famílias carentes ou instituições filantrópicas que sejam assistidas pelo grupo. Todo valor arrecadado será exposto em balanços mensais, para que tanto trabalhadores como frequentadores tenham acesso sobre onde é investido o dinheiro do centro espírita. Caso algum frequentador da casa queira doar algo ao núcleo, é preferível que a doação seja feita em gêneros alimentícios, roupas, materiais de construção e afins, que poderão ser destinados aos carentes ou mesmo utilizados na manutenção da casa. Se houver por algum motivo uma doação em dinheiro, o centro espírita deverá fornecer um recibo ao doador e inscrever esta doação no balanço mensal do grupo.
Todo local que cobra dinheiro, favores ou exige qualquer coisa ou favor material devido à ajuda espiritual prestada não é um centro espírita. A cobrança financeira é própria de pessoas que vivem da exploração da crença alheia, contrariando os ensinos de Jesus. Há seitas que pedem dinheiro aos seus assistidos afirmando que será usado para o feitio de trabalhos espirituais, como a compra de velas, comida, roupas e coisas do gênero. Isso não é Espiritismo. Espíritos que se prestam a fazer serviços espirituais em troca de coisas materiais são entidades atrasadas, que nada de bom podem trazer aos que os procuram.
Não podemos comprar a paz de espírito e tranquilidade que buscamos, é isto que prega a Doutrina Espírita. Se não for esta a orientação do local, com certeza não é um ambiente espírita.

Os 10 principais serviços do centro espírita
A Doutrina Espírita, ou Espiritismo, tem como lema a liberdade de expressão. Assim, não há um órgão centralizador, como ocorre, por exemplo, na Igreja Católica. Há apenas os princípios básicos que sustentam a Doutrina, ou seja: a existência de Deus, dos Espíritos, a possibilidade da comunicação com eles, a existência do mundo espiritual, da Lei de causa e efeito e a reencarnação.
Diante disso, cada centro espírita tem a possibilidade de praticar as atividades doutrinárias da maneira que achar melhor. Colocaremos abaixo 10 das principais funções que devem ser praticadas dentro de um verdadeiro centro espírita. A prática correta ou não destas atividades vai variar de acordo com o conhecimento do grupo que dirigir a casa. E a melhor maneira de sabermos se os trabalhos estão sendo feitos dentro dos preceitos de Allan Kardec é analisarmos os resultados obtidos na orientação e tratamento dos problemas materiais e espirituais dos que buscam ajuda no centro espírita.

1) Recepção
Aquele que chega pela primeira vez no centro espírita geralmente tem uma série de dúvidas a respeito do funcionamento da casa. Muitas vezes nem sabe o que irá encontrar ali, haja visto a grande confusão que há na sociedade sobre o que é e o que não é Espiritismo. Havendo uma recepção, que pode ser uma simples mesa ou uma sala, o indivíduo poderá para lá se dirigir e obter as informações sobre horário de funcionamento da casa e trabalhos desenvolvidos.
É necessário que a pessoa responsável pela recepção tenha total conhecimento das atividades da casa e que se mantenha simpática em todos os momentos. Precisamos lembrar que a recepção é o primeiro contato do visitante com o centro espírita. E quase sempre é a primeira impressão que cativará ou afastará o público do grupo.

2) Palestras:
É o principal trabalho de uma casa espírita. O ser humano só consegue libertar-se de seus vícios morais ou materiais quando se esclarece dos malefícios que os mesmos trazem para sua existência. É através das palestras que os oradores conseguem levar o conhecimento espiritual existente na Doutrina Espírita.
Porém, por ser uma atividade de maior seriedade, deve ser entregue a pessoas preparadas doutrinariamente e experientes em relação à vida cotidiana.
O assistente precisa sentir no palestrante o que a Doutrina chama de força moral. Ou seja, que o expositor esteja falando de algo que conhece e pratica.
O tempo destinado à palestra também é importante. Muito curtas, são superficiais; compridas, tornam-se exaustivas. O ideal são palestras que tenham duração de no mínimo 30 minutos e no máximo 40 minutos.
Seu teor deve mesclar os postulados da Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus. Sempre que possível, relacioná-los com o dia-a-dia da sociedade. Assim, o ouvinte poderá fazer ligações do que está ouvindo com seus próprios problemas e dúvidas.
Importante: no momento da palestra, é aconselhável que as demais atividades da casa sejam interrompidas para que todos os trabalhadores e público possam escutá-la. Lembremos que a palestra será o agente modificador do necessitado e incentivador dos que prestam assistência no núcleo.

3) Atendimento particular
Chamado em alguns centros espíritas de consulta ou entrevista, este trabalho visa orientar e ajudar espiritualmente pessoas detentoras de problemas mais graves, e quando necessário, submetê-las a um tratamento espiritual.
Em uma sala reservada, um atendente e um auxiliar (trabalhadores experientes da casa) receberão para uma conversa íntima indivíduos desajustados emocionalmente, desesperados, com dificuldades familiares, amorosas, financeiras, desiludidos da vida.
A recepcionista da casa se encarregará de preencher uma ficha com os dados básicos do atendido (nome, idade, estado civil, endereço), encaminhando-a aos atendentes. Estes, após conversarem com a pessoa, farão os demais apontamentos que julgarem necessários para o acompanhamento do caso, como: estado emocional, religião praticante, se é portador de algum desequilíbrio mental já diagnosticado por médicos, se está sob efeito de remédios, e outras informações que poderão ajudá-los em um possível tratamento espiritual.
Casas que já possuem médiuns devidamente preparados poderão detectar durante a entrevista ou em uma reunião mediúnica se há ou não uma influência espiritual atuando junto ao ser, orientando-o após isso sobre as atitudes a serem tomadas. Caso contrário, o atendente terá seu trabalho limitado, mas poderá orientar o indivíduo dentro de um posicionamento cristão, ajudando-o a corrigir seus defeitos e encontrar a paz procurada.
Importante:
a) Todas as informações prestadas pelo entrevistado ao atendente serão altamente sigilosas. As fichas que contêm anotações sobre a vida particular da pessoa deverão ficar em um fichário sob a responsabilidade daqueles que participaram da entrevista.
b) Caso haja a utilização de um médium verificando a atividade espiritual ao lado do atendido, possíveis manifestações de Espíritos nunca devem ocorrer na presença do necessitado, para evitar possíveis distúrbios psíquicos ou impressões indesejadas.

4) Reunião mediúnica:
Trata-se de uma reunião íntima onde apenas participam os médiuns (pessoas com maior capacidade de sentir a influência dos Espíritos) da casa e algum trabalhador auxiliar, pois ali muitas vezes serão tratados assuntos que dizem respeito à vida particular de pessoas que buscaram auxílio no centro espírita. Depois de passarem pela sala de atendimento, e verificadas possíveis influências espirituais (obsessão*), os casos serão levados às reuniões mediúnicas, ou de desobsessão. Nestas reuniões, o dirigente da sessão fará o que Allan Kardec denominou de evocação, ou seja: solicitará a Jesus e aos Espíritos superiores que permitam a manifestação da entidade espiritual que está acompanhando determinado ser. Ao se manifestar em um dos médiuns presentes, este Espírito receberá o que o Espiritismo chama de doutrinação, que nada mais é do que uma conversa franca e amigável com o Espírito comunicante. O trabalhador responsável tentará obter do Espírito o que ele deseja ao lado do necessitado e tentará convencê-lo a afastar sua influência, com a ajuda dos Espíritos que dirigem a casa.
A reunião mediúnica também pode servir para que os bons espíritos dêem orientações e para que os sofredores manifestem-se, podendo ser ajudados através da conversa.
Importante: para conseguirem-se bons resultados na doutrinação dos Espíritos é necessário que médium e doutrinador tenham uma vida moral sadia. Vícios materiais, como o cigarro, a bebida ou as drogas; e vícios morais, como o adultério, o orgulho, a sensualidade exagerada e a mentira devem ser combatidos rapidamente por aqueles que se dispõem a trabalhar em nome de Jesus em um centro espírita. Assim como nas palestras, onde o exemplo moral do palestrante é que tocará o indivíduo que o escuta, na mediunidade o Espírito só será convencido de que precisa se modificar se sentir que quem o está orientando ou dando-lhe passagem está esforçando-se também para isso. Caso contrário, a evocação dificilmente trará benefícios ao sofredor.

*Obsessão: Conforme define Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 28, item 81: “A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito causa sobre um indivíduo”.
É diferente, portanto, de uma perturbação espiritual simples, que pode ser causada pelo estado emocional momentâneo por qual passamos.
Na obsessão, o Espírito mau tem o objetivo persistente de prejudicar o obsediado, seja por uma afinidade moral, com o intuito de aproveitar-se dele; seja pelo ódio que os une devido a encarnações passadas.
A obsessão, porém, nunca tem como causa o Espírito obsessor, mas sim, as más tendências que todos carregamos dentro de nós. Ou seja, o obsessor é sempre consequência de nossa condição moral, pois se estivéssemos livres do orgulho, do egoísmo, da maledicência, do nervosismo, da impaciência, da avareza, da sensualidade exagerada, não haveria como uma entidade má se aproximar de nós. Pois a aproximação só se dá pela afinidade de pensamentos e desejos.
Pensar e agir bem, portanto, é o melhor método de afastarmos as obsessões de perto de nós. E se necessário, a administração de um Tratamento Espiritual (descrito a seguir) dará grandes possibilidades de livrar o obsediado desta doença moral.

5) Tratamento espiritual:
Todo aquele em que foi diagnosticada uma obsessão poderá passar por um tratamento espiritual. Ele consiste na aplicação de passes semanais, ingestão de água fluidificada e o acompanhamento das palestras no centro espírita, buscando a análise constante das imperfeições que possibilitaram à má influência instalar-se ao seu lado, tentando melhorar-se moralmente a cada dia.
Este tratamento será complementado nas reuniões mediúnicas, onde os responsáveis pela ajuda continuarão a evocar a entidade perturbadora no sentido de orientá-la a seguir outro caminho.
Assim, atua-se nos dois campos que geram o problema obsessivo: o obsediado, orientando-o moralmente e auxiliando-o fluidicamente; e o obsessor, alertando-o de seu estado e encaminhando-o para um melhor estágio espiritual.

6) Passes:
Os passes são transmissões de fluidos de um ser para outro. Os fluidos são energias que fazem parte da estrutura material e espiritual dos seres. Nos centros espíritas é aconselhável que os médiuns passistas tenham uma vida regrada, sem os vícios já citados no item “Reuniões mediúnicas”. Afinal, se seus fluidos estiverem contaminados por maus pensamentos ou atitudes indevidas poderão prejudicar ao invés de auxiliar quem os recebe.
O passe é aplicado apenas com a imposição das mãos do passista sobre a fronte do indivíduo. Não é necessário tocá-lo.
No momento do passe, o passista busca sintonia com os Espíritos superiores, geralmente através de uma prece feita de pensamento. Com isso, estes amigos espirituais poderão ajuntar seus fluidos aos fluidos do médium, favorecendo ainda mais quem está recebendo. A pessoa após o passe irá se sentir fortalecida e mais disposta frente aos problemas por quais passa.
Importante: o passe é um complemento espiritual, e não a solução. Para que o indivíduo possa melhorar é necessário que busque constantemente a libertação de suas imperfeições. Aqueles que buscam a casa espírita apenas para receber o passe devem ser orientados sobre a necessidade do esclarecimento através das palestras e das boas leituras.

7) Livro de preces:
Muitas pessoas que vêm ao centro têm parentes e amigos que não podem acompanhá-los por variados motivos: doença, viagem, trabalho ou mesmo ignorância sobre o que é a Doutrina Espírita. Outras há que gostariam que seus entes desencarnados recebessem boas vibrações através de orações feitas no núcleo. O livro de preces serve para isso. As pessoas deixam lá os nomes, idade e endereço dos que elas gostariam que fossem beneficiados pela prece. Um trabalhador da casa pode ficar responsável por anotar os dados, que posteriormente serão levados para a reunião mediúnica. Assim, em determinada parte do trabalho, será feita uma prece a Jesus e aos bons Espíritos, pedindo que possam interceder junto àqueles que ali estão anotados.
Importante: sempre que possível, orientar ao público que embora as preces à distância possam levar ajuda, o ideal é a presença da pessoa na casa espírita, onde o amparo será mais direto e os resultados melhores.

8) Estudo doutrinário:
É indispensável ao bom funcionamento do centro espírita o estudo semanal das Obras Básicas da Doutrina Espírita. Para os trabalhadores em geral, é aconselhável a leitura de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Quanto aos que trabalham na mediunidade, a leitura de “O Livro dos Médiuns” torna-se obrigatória para o bom desenvolvimento de suas faculdades.
Se a casa espírita fica sem estudo torna-se presa fácil de Espíritos atrasados que vez por outra tentam atrapalhar o bom andamento dos trabalhos em nome de Jesus. Conhecendo as Obras Básicas da Doutrina, as orientações de Kardec e os conselhos dos Espíritos superiores, os trabalhadores do centro estarão mais atentos para saberem se estão ou não fazendo da casa um núcleo espírita sério.
As obras acessórias que existem no movimento espírita, psicografadas (escritas através de médiuns influenciados por Espíritos) por Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e tantos outros médiuns de renome também podem ser estudadas, desde que não sejam o alvo principal dos estudos. O trabalhador precisa estudar e revisar constantemente as obras de Kardec para poder separar o joio do trigo existente nas obras acessórias.
Importante: para os que estão ingressando ou querendo ingressar nos trabalhos da casa, é importante que o centro tenha um curso para iniciantes, como o que estão participando.
Há vários cursos deste tipo no movimento espírita, que trazem um resumo da Doutrina e de sua história. É aconselhável que diferente dos trabalhadores, que devem estudar sempre, os iniciantes tenham um curso de curta duração (no máximo 5 meses, com aulas semanais). Caso contrário, poderão desanimar antes de conhecerem mais a fundo o Espiritismo.
Se o curso seguir estas dicas, com certeza será um grande auxiliar na captação de novos trabalhadores para o centro.

9) Assistência material:
A caridade material deve fazer parte de toda casa espírita. Se ficarmos apenas na teoria, sem colocar “a mão na massa”, o centro corre o risco de tornar-se apenas um núcleo de muita conversa e pouco serviço.
Trabalhos assistenciais a serem desenvolvidos não faltam: visitas a enfermos em hospitais, manicômios, orfanatos, asilos; distribuição de cestas de alimento, de roupas, de comida; desenvolvimento de escolas profissionalizantes, cursos de gestantes, evangelização infantil em favelas e muitas outras formas de auxílio aos carentes do pão material.
Todo trabalhador do centro espírita deve buscar ao menos um tipo de caridade material por semana. Isso desenvolverá dentro dele o sentimento de compaixão ao próximo, que lhe será muito útil em sua vida, dentro e fora da casa espírita.

10) Divulgação doutrinária:
A Doutrina Espírita precisa ser bem divulgada para que diminuam as confusões existentes entre ela e cultos espiritualistas ou afro-brasileiros. Ter uma biblioteca na casa é de extrema importância. O centro poderá comprar ou receber em doações uma série de livros doutrinários que possam esclarecer o leitor sobre as bases do Espiritismo e do mundo espiritual. Estas obras devem ser emprestadas ao público que terá cerca de vinte dias para ler e devolvê-la para a casa. Uma pessoa fica responsável pelo empréstimo e anotação do nome, endereço e telefone do locatário. Com isso, se caso houver uma demora na devolução, o bibliotecário poderá contatar o leitor e lembrá-lo de devolver a obra para que outras pessoas possam usufruí-la também.
Outras formas importantes de divulgação são a Internet e os folhetos ou jornais doutrinários que podem ser confeccionados pelo grupo. O teor das matérias deve ser o esclarecimento das práticas espíritas, a exposição de temas evangélicos e o comentário de situações e fatos do cotidiano à luz da Doutrina Espírita.
Perguntas

1) Qual é a origem das palavras Espírita e Espiritismo? Quem as inventou?
2) Comente três diferenças entre um centro espírita e um terreiro de cultos afro-brasileiros.
3) Como deve ser o desenvolvimento mediúnico em um centro espírita?
4) Qual a principal atividade de um centro espírita?
5) Coloque (V) Verdadeiro ou (F) Falso:
a) ( ) A cobrança financeira dos frequentadores do centro é muito importante para os trabalhos espíritas.
b) ( ) A reunião mediúnica deve ser feita na presença de todos os interessados, trabalhadores ou não da casa.
c) ( ) Obsessão é uma influenciação normal de um Espírito sobre um encarnado.
d) ( ) Não há rituais, velas, cânticos, roupas especiais e evocações em público em um centro espírita .


Aula 4

O trabalhador espírita

Agora que sabemos o que é a Doutrina Espírita, quais seus princípios e como ela deve ser praticada nos centros espíritas, comentaremos sobre como deve ser um trabalhador espírita.
Prestar serviço caritativo em uma casa religiosa requer boa vontade e perseverança.
Primeiro, porque sempre que modificamos algo em nossa vida, há como que uma barreira a ser transposta. Isso é a tentativa de mudança causando uma reação contrária.
Mudar o estabelecido, os costumes que temos, é muito difícil, pois nos fará rever conceitos e assumir novos compromissos.
E estas dificuldades de adaptação poderão ocorrer em muitos setores de nossa vida.
Ao comentá-los, lembremos da “Parábola do Semeador”, onde caberá a nós deixarmos ou não as sementes frutificarem em nossos corações.
No lar: se ambos os cônjuges resolvem trabalhar em prol do próximo, não há problemas, pois os dois irão se ajudar nessa nova etapa da vida. Porém, se apenas um toma esta decisão, terá que saber contornar, com paciência e humildade, as reclamações e questionamentos do companheiro (a).
Raros são os casos em que mesmo não frequentando um trabalho caritativo o cônjuge não implica com o outro. Isso porque inconscientemente sente-se diminuído, sem forças para buscar algo novo, o que começa a perturbar.
Cabe àquele que decidiu buscar fazer algo de bom pelo próximo manter um diálogo constante, sem forçar ao outro a mesma iniciativa. Com exemplos na conduta e mostrando diariamente o quanto o trabalho espiritual tem lhe feito bem, irá tocar o coração do companheiro (a), que poderá vir a juntar-se a ele na seara de Jesus.
Mas mesmo que isso não ocorra, com o passar do tempo a mudança de atitudes dos que trabalham no centro espírita irá beneficiar diretamente toda sua família, ajudando na manutenção de um ambiente harmonioso e feliz, construindo um lar onde os filhos terão prazer em viver. Enfim, uma família cristã.

No trabalho: muitos dos velhos companheiros do novo trabalhador (a) espírita irão estranhar quando, no sábado à tarde, ao invés de ir no futebol ou às compras no shopping, ele for visitar velhinhos no asilo; ou bater de porta em porta pedindo alimento aos carentes. Será, então, chamado de “carola”, “fanático”, “rato de igreja” e outros adjetivos próprios de nossa sociedade. Esta será a fase mais difícil, pois muitas vezes passamos mais tempo com os amigos do trabalho e do lazer do que com nossa própria família.
Isso também passará com o tempo, quando seus amigos perceberão que não é a dedicação de algumas horas semanais em benefício alheio que o tornará menos sociável. Pelo contrário, sentirão uma maior serenidade em seus atos, um maior equilíbrio em seu cotidiano.
E o futebol, como as compras, não deixarão de existir em sua vida. Apenas cederão um pouco de espaço para os que necessitam de nosso amparo.
Os vícios: todos sabemos que cigarro e álcool não fazem bem para o organismo, nem em pequenas doses. Mas muitos de nós não conseguimos nos afastar, ainda, destes vícios. Compreendendo a Doutrina Espírita e como agem os fluidos que nos envolvem, percebemos que estes hábitos também prejudicam nosso corpo espiritual, o Perispírito, deixando-nos impregnados com as sensações dos mesmos.
O trabalhador espírita iniciante deve estar consciente da necessidade de lutar contra esses vícios materiais. Não de forma radical, pois a natureza não dá saltos. Mas de forma sensata e constante, contando com a ajuda dos bons Espíritos e de Jesus.
Já para o trabalhador espírita que pratica a mediunidade, ou que transmite passes, o uso do cigarro e do álcool é excluído. Isso porque no caso da mediunidade, muitos são os Espíritos comunicantes ainda ligados a esses vícios. E para orientá-los, ou envolvê-los em boas vibrações, médiuns e doutrinadores precisarão ter a “força moral na palavra”, prescrita por Allan Kardec. Ou seja, se vamos orientar alguém para desvincular-se do vício, nós mesmos devemos estar desvinculados. Caso contrário, nossas palavras não emitirão sinceridade, apenas superficialidade.
É o mesmo que o pai ou mãe que bebem, fumam ou falam palavrões quererem proibir os filhos de fazerem o mesmo. De nada adiantará, se não houver o exemplo.
Já no caso do passista, ao ministrar o passe estará doando seus fluidos, juntamente com os dos Espíritos superiores. E se os seus estiverem contaminados pelas substâncias contidas no cigarro e no álcool, irão transmiti-las aos receptores.
É verdade que de nada adianta o médium não beber ou não fumar e viver na mentira, desonestidade, adultério e orgulho. Porém, estes são os vícios morais que a convivência com a Doutrina deve nos levar a modificar. E, verdadeiramente, são mais difíceis de vencer.
Começar pelos vícios materiais pode nos ajudar a ter força de vontade. Cabe a nós decidirmos.
As compensações: realmente, ser um trabalhador espírita necessita muito ânimo e coragem. Porém, as recompensas são reais. Pois todo aquele que trabalha para Jesus com sinceridade no coração encontra o “Reino de Deus” dentro de si, que nada mais é do que a paz de espírito e o equilíbrio na vida.
Abaixo, transcrevemos uma passagem contida em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo 20, item 4, intitulada “Missão dos Espíritas”, que nos mostra bem o que o Senhor espera daqueles que decidiram ajudar ao próximo.

Missão dos espíritas
“Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. O verdadeiros adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo infinito!... lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniqüidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras.
Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do que Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz.
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do Sol nascente.
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniqüidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade”.
(O Evangelho Segundo do Espiritismo, cap. XX, item 4)