terça-feira, 25 de setembro de 2012

L/E – Pergunta 7

7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?
“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.”
A.K.: Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.
A MATÉRIA É EFEITO
Indubitavelmente que a matéria tem vida. No seu seio mais íntimo notar-se-ão fenômenos que por vezes escapam à inteligência humana. Há, pois, obediência às leis sutis que governam e sustentam toda a Criação. Tudo isso que notamos na matéria e que a observação científica comprova são efeitos da Grande Inteligência, que denominamos, com toda satisfação, Deus.
Nós, no mundo espiritual, e na ação que nos cabe pesquisar, continuamos em estudos profundos sobre o Criador. Assistimos, em lugares apropriados, a luminares da eternidade expondo conceitos que já puderam comprovar sobre o Grande Foco, Sua vida e sua interferência em todas as direções da Sua casa universal. E eis que, para passar aos encarnados o que ouvimos é necessário que obedeçamos a certas regras da comunicação com os seres, ainda envolvidos nos fluidos da carne.
Deus é realidade absoluta; o que podemos dizer é que Ele vibra em tudo que existe. Falando na mesma freqüência dos homens, Ele é personalidade distinta no centro das Suas criatividades. Repitamos novamente: Ele é Espírito. Se assim podemos dizer, o Criador é único, porém, no Seu gesto de trabalho se faz binário. O que podemos observar na extensão infinita é que Ele aparece e desaparece entre duas respirações do Seu dinâmico poder de viver, e Seu hálito divino interpenetra todas as coisas, marcando a Sua presença, semeando vida e dinamizando forças.
Somente poderemos conhecer um pouco do Grande Espírito pelos Seus atributos. Avançar mais, onde os nossos sentidos não alcançam, é perda de tempo e falta de compreensão e obediência a determinadas leis, que marcam os limites do nosso saber. Se queres entender mais, a meditação, depois do trabalho honesto, é um caminho excelente para o conhecimento mais acentuado do Criador. Nós O conhecemos mais, não pelos números, nem por ouvir falar; sentimos Sua presença quando a consciência se apóia no dever cumprido. Os Espíritos puros sentem Deus na profunda sensibilidade e expressam uma tranqüilidade imperturbável no coração.
A matéria é a mais baixa vibração da Divindade, é caminho criado por Ele para o despertar dos Seus filhos, que saem das Suas mãos luminosas e voltam para o Seu íntimo de vida. Essa viagem é um tanto ou quanto extensa, competindo a cada criatura fazer a sua parte, na aquisição da sua própria paz espiritual. Os sentidos dos homens, mesmo dos mais elevados, em comparação com a pureza espiritual dos benfeitores da humanidade, são apagados, pois se distanciam milhões de anos entre uns e outros na escala evolutiva, mas, alegramo-nos em dizer que eles também passaram por onde estamos, como estamos avançando para o reino onde eles permanecem trabalhando.
Voltando ao assunto inicial, dignamo-nos a responder que, no íntimo da matéria poderás encontrar Deus, porque as propriedades da matéria falam d'Ele, da Sua grandeza espiritual, desde que tenhamos sentido para tal pesquisa. Porém, esses fenômenos não são o Criador; são efeitos da Causa Primária, manifestando-se nas formas transitórias. Pulsa na matéria a vida universal, o fluido cósmico vibrante, dirigido pela mente do Criador e obediente aos seus sentimentos. Ele sabe de tudo e está em tudo, através dos Seus atributos espirituais.
A matéria, por mais evoluída que seja, não demonstra inteligência. Ela é movida pela Inteligência Suprema. Em se falando da Terra, somente no homem começa a despertar a razão, que é conseqüência do princípio inteligente, mesmo assim, sob o comando da Inteligência Maior, Deus.




L/E – Pergunta 6

6. O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de idéias adquiridas?
“Se assim fosse, por que existiria nos vossos selvagens esse sentimento?”
A.K.: Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.
PRODUTO DA EDUCAÇÃO
A educação nos estimula para as coisas mais nobres da vida, sabemos disso; no entanto, ela é gradativa, de acordo com a nossa evolução espiritual. O modo de assimilação da educação nos meios em que se estagia é diferente de uns para os outros, de acordo com os dons despertados em cada criatura. A consciência de cada alma seleciona o que recebe, como produto do meio em que vive e dá condições à inteligência, para que esta amplie os seus valores na pauta da sua existência, e recusa o que não lhe serve, por condições que já atingiu no avanço espiritual.
Toda herança é relativa, respeitando a posição do herdeiro na vida. Consultando as grandes vidas na Terra, a razão certifïcar-nos-á desta verdade. Os Espíritos, mesmo os chamados primitivos, quando reencarnam em um meio mais evoluído, não assimilam o produto da educação oferecida, por não terem capacidade de entendimento na altura dos seus progenitores, das escolas e livros. A assertiva de que somos o produto do meio não encontra segurança nas leis da evolução. Podemos ser ou não esse produto, dependendo da faixa em que nos situemos, com aqueles com quem convivemos. E perguntamos: onde aprenderam os primeiros mestres? Qual a escola?
O aprendizado mais atuante surge das trocas de experiências entre pessoas e nações; entretanto, o surgimento do verdadeiro aprendizado das almas vem pelos processos de despertar das qualidades que, por vezes, dormem em todos os seres. Daí é que dizemos, como já falaram todos os profetas, que Toda sabedoria vem de Deus. Todo amor parte da sua magnânima personalidade.
A idéia de Deus, na grande população indígena que viveu na Terra e da qual ainda restam uns poucos elementos, é uma prova irrefutável de que Ele existe e que não foi produto do meio. Foi revelação dos próprios Espíritos que circundavam e protegiam esses elementos, nas seqüências evolutivas em que a vida os colocou.
Muitos dos senhores de engenho que dominaram o Brasil por muito tempo, alimentavam e divulgavam a idéia de que a vida terminava no túmulo e que escravos eram animais de carga. Todavia, mesmo de posse do poder da situação e da força, não tiravam dos cativos a crença da existência de Deus e das almas, que utilizavam nos batuques, os corpos dos sensitivos, para os animarem nas suas provações. Onde fica o produto do meio e da agressão? Quanto mais sofre o Espírito, mais despertam suas qualidades espirituais, mais a verdade o conduz para os caminhos da luz!
Certamente que não vamos parar no exercício sublime da educação e da instrução em todas as faixas de vida e da vida, porque é nessa persistência humana e divina que fazemos a nossa parte, junto à já feita por Deus.
Os sentimentos íntimos que todos temos, quanto à imortalidade da alma e à existência de nosso Pai Celestial, rói a primeira coisa divina colocada em nossos corações espirituais pelas mãos do Criador, em forma de luz que nos ilumina a vida. Essa certeza não se vende, não se dá, ninguém tira: é nosso patrimônio, que brilha em nós com alegria e esperança, a nos falar da felicidade eterna. A meta mais inteligente é educar e instruir. Por esses meios todos os talentos desabrocham e a vida para nós passa a ser uma vida em Cristo, na presença de Deus.

L/E – Pergunta 5

5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus?
“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio - não há efeito sem causa.”
INTUIÇÃO DIVINA
A telepatia entre os homens é um fato constatado. Constitui-se em experiências de todos os reinos do saber. Já se conhece as suas causas e seus efeitos, com largos exemplos, nos quatro cantos do mundo. Já se sabe que cada criatura pode transmitir as suas idéias aos seus semelhantes, por vezes sem estar consciente desse ato, comum a todos os seres. Muitos buscam a perfeição ou melhoramento nas transmissões dos seus pensamentos, através de escolas, ou exercícios específicos no silêncio das coisas que se operam na vida.
E é nessa verdade que encontramos outra mais sutil: se os encarnados podem se comunicar entre si, pelos fios dos pensamentos, os desencarnados igualmente o podem, e com mais propriedade, por se encontrarem livres das cadeias da carne. E, se os homens trocam suas idéias, na serenidade das vibrações, asseguradas por leis que sustentam a harmonia, e se esses mesmos homens desencarnados continuam esse processo de comunicação recíproca, como não pensar nas possibilidades de os desencarnados transmitirem seus pensamentos aos encarnados pelo mesmo mecanismo?
Eis aí a Mediunidade, que se estende em todas as direções, pelos caminhos da sensibilidade, na regência da lei do Amor, onde a fraternidade abriu caminhos por meios da Caridade. Os homens sensíveis, querendo, podem negar, pois têm livre escolha nas suas atitudes, porém, eles conhecem quando os pensamentos nascem da sua própria mente e quando procedem de fontes espirituais, dado o peso magnético das suas vibrações. A consciência registra todos os valores e dá a conhecer à mente instintiva e atuante a procedência da conversa mental.
Usamos as comparações acima citadas, para te dizer de algo excelente, para te dizer do avanço da razão, aprimorada na seqüência do tempo e pelas bênçãos de Deus: queremos falar da intuição, que será a faculdade comum do futuro, por enquanto latente em todos os seres. É ela o veículo divino capaz de orientar todas as criaturas e fazê-las felizes, filha do progresso espiritual, nascida no amanhecer das almas, ao despertarem para a luz, para o entendimento das leis espirituais. Essa intuição, no seu princípio se chamava instinto, dominando animais e homens nos seus primeiros passos. E se os homens primitivos já possuíam em suas consciências a idéia de Deus e viviam em tribos espalhadas pela Terra, sem condições de comunicação entre si, qual a origem dessa consciência de um Poder Supremo? E se não existe causa sem efeito, nem efeito sem causa, essa causa será, certamente, esse Deus que tanto amamos, que fala a tudo e a todos da Sua existência, pelos processos compatíveis com os que devem e precisam escutar a Sua voz dentro da alma.
A certeza da existência de Deus é a de que Ele existe. Não há outra lógica no mundo das deduções humanas e espirituais, e tudo que vive canta louvores ao Criador, na dimensão que lhe é própria; e nós, já na condição de Espírito humano, como sendo as flores da grande árvore plantada por Deus no jardim cósmico, cantemos juntos, encarnados e desencarnados, o hino de gratidão ao Supremo Senhor do Universo, pelo que somos e atingimos na escala da vida! Esse cântico deve ser manifestado pela vida reta, mesmo nas estradas tortuosas onde nos situamos. Busquemos a intuição divina, para que a Divina Intuição nos ampare e nos desperte para a verdade que nos fará livres!

domingo, 23 de setembro de 2012

Deve-se Colocar um Fim às Provas do Próximo?


Bernardin, Espírito protetor – Bordeaux, 1863.
 27 – Deve-se colocar um fim às provas do próximo quando isso for possível? Ou, em respeito à vontade de Deus, é preciso deixá-las seguir o seu curso?
      Já dissemos muitas vezes que estão na terra para concluir suas provas, e tudo o que lhes acontece é fruto de suas existências anteriores. É o peso da dívida que todos têm que pagar. Esse pensamento provoca reflexões em algumas pessoas e idéias que precisam ser combatidas, pois poderiam causar conseqüências desastrosas.
    Alguns pensam que, a partir do momento em que se está na terra para corrigir os erros de existências anteriores, é preciso deixar que as provas sigam seu curso. Existem os que acreditam que não é preciso fazer nada para atenuá-las, ao contrário, entendem que é melhor agravá-las, tornando-as assim mais proveitosas. Isso é um grande erro. Sim, as provas devem seguir o curso que foi traçado por Deus, mas por acaso conhecem esse curso? Sabem até que ponto elas devem ir? Será que o Pai misericordioso não disse que o sofrimento desse irmão não deverá ir mais longe? Será que vocês não foram escolhidos pela Providência, não como um instrumento de suplício para agravar-lhe o sofrimento, mas como um alívio para cicatrizar as feridas que a Justiça abriu?
    Quando estiverem na presença de um irmão que sofre, não devem dizer: “É a justiça de Deus, é preciso que ela siga seu curso”. Digam, ao contrário: “vejamos que meios o Pai misericordioso colocou à minha disposição para suavizar o sofrimento desse irmão”. “Vejamos se as minhas consolações morais, o meu apoio material, os meus conselhos, não podem ajudá-lo a transpor esse dificuldade com mais ânimo, paciência e resignação.” “Será que Deus não colocou em minhas mãos os meios para que eu consiga fazer cessar o sofrimento desse irmão”? “Será que não me foi dado também como prova, ou como um meio de resgatar meus erros, deter o mal e substituí-lo pela paz?
     Ajudem-se uns aos outros em suas provas e nunca se tornem instrumentos de tortura para ninguém. Esse pensamento deve revoltar todo homem de bom coração, principalmente o espírita, pois, melhor do que os outros, ele deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus.
     O espírita sabe que toda sua vida deve ser um ato de amor e dedicação, e qualquer coisa que faça para contrariar as decisões do Senhor não irá alterar o curso da Justiça Divina. Ele pode então usar sem receio, todos os esforços para suavizar a amargura da expiação do seu próximo, pois somente Deus poderá interrompê-la ou prolongá-la conforme julgue necessário.
     Sob o pretexto de que o sofrimento é merecido, não deveria o homem sentir-se no direito de aumentar ainda mais a aflição daqueles que têm contas a ajustar com seu passado? Não! Considerem-se sempre como um instrumento para fazer cessar o sofrimento de seus irmãos.
     Podemos resumir assim: todos estão na terra para corrigir erros cometidos no passado, mas todos, sem exceção, devem empregar seus esforços para auxiliar o próximo e assim suavizar o sofrimento de seus irmãos, segundo a Lei do Amor e da Caridade.
Fonte: Evangelho Segundo o Espiritismo
Autor: Allan Kardec