quinta-feira, 28 de abril de 2011

Acão e Reação

Capítulo 1 "Luz nas sombras"
Hilário e eu visitávamos a "Mansão Paz", notável escola de reajuste de que Druso era o diretor abnegado e amigo.
O estabelecimento, situado nas regiões inferiores, era bem uma espécie de "mosteiro São Bernardo", em zona castigada por natureza hostil, com a diferença de que a neve, quase constante em torno do célebre convento encravado nos desfiladeiros entre a Suíça e a Itália , era ali substituída pela sombra espessa, que, naquela hora, se adensava, movimentada e terrível, ao redor da instituição, como se tocada por ventania incessante.
O pouso acolhedor, que permanece sob a jurisdição de "Nosso Lar" (Cidade espiritual na Esfera Superior. - Nota do Autor espiritual), está fundado há mais de três séculos, dedicando-se a receber Espíritos infelizes ou enfermos, decididos a trabalhar pela própria regeneração, criaturas essas que se elevam a colônias de aprimoramento na Vida Superior ou que retornam à esfera dos homens para a reencarnação retificadora.
Em razão disso, o casario enorme, semelhante a vasta cidadela instalada com todos os recursos de segurança e defesa, mantém setores de assistência e cursos de instrução, nos quais médicos e sacerdotes, enfermeiros e professores encontram, depois da morte terrestre, aprendizados e que fazeres da mais elevada importância.
Pretendíamos efetuar algumas observações, com referência às leis de causa e efeito-o carma dos hindus e, convenientemente recomendados pelo Ministério do Auxílio, achávamo-nos ali, encantados com a palavra do orientador, que prosseguia, atencioso, após longa pausa.
A conversação fascinava-nos.
Enquanto nos entendíamos, reparávamos lá fora, através do material transparente de larga janela, a convulsão da Natureza.
Ventania ululante, carregando consigo uma substância escura, semelhante à lama aeriforme, remoinhava com violência, em torvelinho estranho, à maneira de treva encachoeirada...
E do corpo monstruoso do turbilhão terrível rostos humanos surdiam em esgares de horror, vociferando maldições e gemidos.
Apareciam de relance, jungidos uns aos outros como vastas correntes de criaturas agarradas entre si, em hora de perigo, na ânsia instintiva de dominar e sobreviver.
Druso, tanto quanto nós, contemplou o triste quadro com visível piedade a marear-lhe o semblante.
Fixou-nos em silêncio como a chamar-nos para a reflexão. Parecia dizer-nos quanto lhe doía o trabalho naquela paragem de sofrimento, quando Hilário interrogou:
- Por que não descerrar as portas aos que gritam lá fora? Não é este um posto de salvação?
- Sim - respondeu o Instrutor, sensibilizado -, mas a salvação só é realmente importante para aqueles que desejam salvar-se.
E, depois de pequeno intervalo, continuou:
- Para cá do túmulo, a surpresa para mim mais dolorosa foi essa, o encontro com feras humanas, que habitavam o templo da carne, à feição de pessoas comuns. Se acolhidas aqui, sem a necessária preparação, atacar-nos-iam de pronto, arrasando-nos o instituto de assistência pacífica. E não podemos esquecer que a ordem é a base da caridade.
Apesar da explicação firme e serena, concentrava-se Druso no painel exterior, tal a compaixão a desenhar-se-lhe na face.
Logo após, recompondo a expressão fisionômica, o Instrutor aduziu:
- Somos hoje defrontados por grande tempestade magnética, e muitos caminheiros das regiões inferiores são arrebatados pelo furacão como folhas secas no vendaval.
- E guardam consciência disso? - indagou Hilário, perplexo.
- Raros deles. As criaturas que se mantêm assim desabrigadas, depois do túmulo, são aquelas que não se acomodam com o refúgio moral de qualquer princípio nobre.
Trazem o íntimo turbilhonado e tenebroso, qual a própria tormenta, em razão dos pensamentos desgovernados e cruéis de que se nutrem.
Odeiam e aniquilam, mordem e ferem. Alojá-los, de imediato, nos santuários de socorro aqui estabelecidos, será o mesmo que asilar tigres desarvorados entre fiéis que oram num templo.
- Mas conservam-se, interminavelmente, nesse terrível desajuste? - insistiu meu companheiro agoniado.
O orientador tentou sorrir e respondeu:
- Isso não. Semelhante face de inconsciência e desvario passa também como a tempestade, embora a crise, por vezes, persevere por muitos anos. Batida pelo temporal das provações que lhe impõem a dor de fora para dentro, refunde-se a alma, pouco a pouco, tranqüilizando-se para abraçar, por fim, as responsabilidades que criou para si mesma.
- Quer dizer, então - disse por minha vez -, que não basta a romagem de purgação do Espírito depois da morte, nos lugares de treva e padecimento, para que os débitos da consciência sejam ressarcidos...
- Perfeitamente - aclarou o amigo, atalhando-me a consideração reticenciosa -, o desespero vale por demência a que as almas se atiram nas explosões de incontinência e revolta. Não serve como pagamento nos tribunais divinos. Não é razoável que o devedor solucione com gritos e impropérios os compromissos que contraiu mobilizando a própria vontade. Aliás, dos desmandos de ordem mental a que nos entregamos, desprevenidos, emergimos sempre mais infelizes, por mais endividados.
Cessada a febre de loucura e rebelião, o Espírito culpado volve ao remorso e à penitência. Acalma-se como a terra que torna à serenidade e à paciência, depois de insultada pelo terremoto, não obstante amarfanhada e ferida. Então, como o solo que regressa ao serviço da plantação proveitosa, submete-se de novo à sementeira renovadora dos seus destinos.
Atormentada expectação baixara sobre nós, quando Hilário considerou:
- Ah! se as almas encarnadas pudessem morrer no corpo, alguns dias por ano, não à maneira do sono físico em que se refazem, mas com plena consciência da vida que as espera!...
- Sim - ajuntou o orientador -, isso realmente modificaria a face moral do mundo; entretanto, a existência humana, por mais longa, é simples aprendizado em que o Espírito reclama benéficas restrições para restaurar o seu caminho. Usando nova máquina fisiológica entre os semelhantes, deve atender à renovação que lhe diz respeito e isso exige a centralização de suas forças mentais na experiência terrena a que transitoriamente se afeiçoa.
A palavra fluente e sábia do Instrutor era para nós motivo de singular encantamento, e, porque me supunha no dever de aproveitar os minutos, ponderava em silêncio, de mim para comigo, quanto à qualidade das almas desencarnadas que sofriam a pressão da tormenta exterior.
Druso percebeu-me a indagação mental e sorriu, como a esperar por minha pergunta clara e positiva.
Instado pela força de seu olhar, observei, respeitoso:
- Diante do espetáculo penoso a que nos é dado assistir, somos naturalmente constrangidos a pensar na procedência dos que experimentam o mergulho nesse torvelinho de horror... São delinqüentes comuns ou criminosos acusados de grandes faltas?
Encontraríamos por aí seres primitivos como os nossos indígenas por exemplo?
A resposta do amigo não se fez esperar.
- Tais inquirições - disse ele -, quando de minha vinda para cá, me assomaram igualmente à cabeça. Há cinqüenta anos sucessivos estou neste refúgio de socorro, oração e esperança. Penetrei os umbrais desta casa como enfermo grave, após o desligamento do corpo terrestre. Encontrei aqui um hospital e uma escola. Amparado, passei a estudar minha nova situação, anelando servir. Fui padioleiro, cooperador da limpeza, enfermeiro, professor, magnetizador, até que, de alguns anos para cá, recebi jubilosamente o encargo de orientar a instituição, sob o comando positivo dos instrutores que nos dirigem. Obrigado a pacientes e laboriosas investigações, por força de meus deveres, posso adiantar-lhes que às densas trevas em torno somente aportam as consciências que se entenebreceram nos crimes deliberados, apagando a luz do equilíbrio em si mesmas. Nestas regiões inferiores não transitam as almas simples, em qualquer aflição purgativa, situadas que se encontram nos erros naturais das experiências primárias. Cada ser está jungido, por impositivos da atração magnética, ao círculo de evolução que lhe é próprio. Os selvagens, em grande maioria, até que se lhes desenvolva o mundo mental, vivem quase sempre confinados a floresta que lhes resume os interesses e os sonhos, retirando-se vagarosamente do seu campo tribal, sob a direção dos Espíritos benevolentes e sábios que os assistem; e as almas notoriamente primitivas, em grande parte, caminham ao influxo dos gênios beneméritos que as sustentam e inspiram, laborando com sacrifício nas bases da instituição social e aproveitando os erros, filhos das boas intenções, à maneira de ensinamentos preciosos que garantem a educação dessas almas. Asseguro-lhes, assim, que, nas zonas infernais propriamente ditas, apenas residem aquelas mentes que, conhecendo as responsabilidades morais que lhes competiam, delas se ausentaram, deliberadamente, com o louco propósito de ludibriarem o próprio Deus. O inferno, a rigor, pode ser, desse modo, definido como vasto campo de desequilíbrio, estabelecido pela maldade calculada, nascido da cegueira voluntária e da perversidade completa. Aí vivem domiciliados, às vezes por séculos, Espíritos que se bestializaram, fixos que se acham na crueldade e no egocentrismo. Constituindo, porém, larga província vibratória, em conexão com a humanidade terrestre, de vez que todos os padecimentos infernais são criações dela mesma, estes lugares tristes funcionam como crivos necessários para todos os Espíritos que escorregam nas deserções de ordem geral, menosprezando as responsabilidades que o Senhor lhes outorga. Dessa forma, todas as almas já investidas no conhecimento da verdade e da justiça e por isso mesmo responsáveis pela edificação do bem, e que, na Terra, resvalam nesse ou naquele delito, desatentas para com o dever nobilitante que o mundo lhes assinala, depois da morte do corpo estagiam nestes sítios por dias, meses ou anos, reconsiderando as suas atitudes, antes da reencarnação que lhes compete abraçar, para o reajustamento tão breve quanto possível.
- Desse modo...
Dispunha-se Hilário a ensaiar conclusões, mas Druso, apreendendo-lhe a idéia, atalhou, sintetizando:
- Desse modo, os gênios infernais que supõem governar esta região, com poder infalível, aqui vivem por tempo indeterminado. As criaturas perversas que com eles se afinam, embora lhes padeçam a dominação, aqui se deixam prender por largos anos. E as almas transviadas na delinqüência e no vício, com possibilidades de próxima recuperação, aqui permanecem em estágios ligeiros ou regulares, aprendendo que o preço das paixões é demasiado terrível. Para as criaturas desencarnadas desse último tipo, que passam a sofrer o arrependimento e o remorso, a dilaceração e a dor, apesar de não totalmente livres das complexidades escuras com que se arrojaram às trevas, as casas de fraternidade e assistência como esta funcionam, ativas e diligentes, acolhendo-as quanto possível e habilitando-as para o retorno às experiências de natureza expiatória na carne.
Lembrava-me do tempo em que perlustrara, por minha vez, semi-consciente e conturbado, os trilhos da sombra, quando de meu desligamento do veículo físico, confrontando meus próprios estados mentais do passado e do presente, quando o orientador prosseguiu:
- Segundo é fácil reconhecer, se a treva é a moldura que imprime destaque à luz, o inferno, como região de sofrimento e desarmonia, é perfeitamente cabível, representando um estabelecimento justo de filtragem do Espírito, a caminho da Vida Superior. Todos os lugares infernais surgem, vivem e desaparecem com a aprovação do Senhor, que tolera semelhantes criações das almas humanas, como um pai que suporta as chagas adquiridas pelos seus filhos e que se vale delas para ajudá-los a valorizar a saúde. As Inteligências consagradas à rebeldia e à criminalidade, em razão disso, não obstante admitirem que trabalham para si, permanecem a serviço do Senhor, que corrige o mal com o próprio mal.
Por esse motivo, tudo na vida é movimentação para a vitória do bem supremo.
Druso quis prosseguir, mas invisível campainha vibrou no ar e, mostrando-se alertado pela imposição das horas, levantou-se e disse-nos simplesmente:
- Amigos, chegou o instante de nossa conversação com os internados que já se revelam pacificados e lúcidos. Dedicamos algumas horas, duas vezes por semana, a semelhante mister.
Erguemo-nos sem divergir e acompanhamo-lo, prestamente.
AÇÃO E REAÇÃO (FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER, DITADO PELO ESPÍRITO ANDRÉ LUIZ)

 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Um Lindo Ensinamento de um Preto - Velho (Vale a pena Ler)

     Dando início a uma destas reuniões mediúnicas num centro espírita orientado pela doutrina de Allan Kardec, foi feita a prece, a abertura por um dos presentes. Iniciando-se as manifestações, pequenas mensagens de consolo e apoio foram dadas pelos desencarnados aos membros da reunião.Quando se abriu o espaço destina à comunicação de espíritos necessitados, ocorreu o inesperado, a médium Letícia fica sob a influência de um espírito... O dirigente Sr. Antenor, como sempre fez nos seus vinte anos de prática espírita, deu-lhes as boas –vindas, em nome de Jesus.
    -Seja bem-vindo, meu irmão, nesta casa de caridade. O espírito respondeu :
    -Boa noite fio. Suncê me dá licença pra eu me aproxima de seus trabaios, fio?
    -Claro, meu companheiro, nosso centro espírita está aberto a todos os que desejam progredir. – respondeu o dirigente da mesa. Todos os presentes perceberam que a entidade comunicante era um Preto-Velho. A entidade continuou:
    -Vós mecê não tem aí uma bebida pra eu bebê, fio?
    -Não, não temos. Você precisa se libertar destes costumes que traz dos terreiros, que é o de ingerir bebidas alcoólicas. O espírito precisa evoluir – disse-lhe o Sr. Antenor.
    -Vósmecê, num tem aí um pito? To com vontade de pita um cigarrinho, fio;
    -Ora meu irmão, você deve deixar o mais b revê possível este hábito adquirido nas práticas de terreiro, se é que queres progredir. Que benefícios traria isso a você?
O Preto-Velho respondeu:
    -Preto Veio gostou muito de suas falas, mas suncê e mais alguns dos médiuns não faz uso do cigarro, fio? Suncê mesmo num toma suas bebidinhas nos finar de semana? Vós mecê pode me explica a diferença que tem o seu espírito que beberica whisky do meu espírito que quer beber aqui dentro? Ou explica pra mim, a diferença do cigarrinho que suncês fuma na rua, daquele que eu quero pita aqui dentro?
Sr. Antenor não pode explicar, mas resolveu arriscar:
    -Ora, meu amigo, nós estamos num templo espírita é preciso respeitar os trabalhos de Jesus.
    -Fio, ou se suncê preferi... Caro dirigente, na escola espiritual da qual faço parte, temos aprendido que o verdadeiro templo não se constitui nas quatro paredes a que chamais centro espírita. Para nós, estudiosos da alma, o templo da verdade é o do Espírito. E é ele que está sendo profanado com o uso do álcool e do fumo, como vêm procedendo os senhores. Vosso exemplo na sociedade, perante os estranhos e mesmo seus familiares, não tem sido dos melhores. O hábito, mesmo social, de beber e fumar deve ser combatido por todos os que trabalham na terra em nome do Cristo. A lição do próprio comportamento é fundamental na vida de quem quer ensinar.

Houve grande silêncio diante de tal argumentação segura. Pouco depois, o Espírito continuou:

    -Suncê me adescurpa a visitação que fiz hoje, e o tempo que tomei do seu trabaio. Vou-me embora pra donde vim, mas antes, fio, queria deixa a suncêis um conseio: que tomem cuidado com suas obras, pois, como diria Nosso Sinhô, tem gente coando mosquito e engolindo camelos. Cuidado irmãos, muito cuidado. Preto-Véio deixa a todos um pouco da paz que vem de Deus. Ficam meus sinceros votos de progresso a todos os que militem nesta respeitável Seara.
     Dado o conselho, afastou-se para o mundo invisível. Sr. Antenor ainda quis perguntar-lhe o porque de falar “daquela forma”, mas não houve resposta. No ar ficou um profundo silêncio, uma fina sensação de paz e uma importante lição para todos meditarem.”

domingo, 24 de abril de 2011

Companhias Espirituais

“(...) criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. (...) Desse modo é que os mais secretos movimentos de alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.”
(A Gênese, Allan Kardec, cap. XIV, item 15).

     A uma simples vibração do nosso ser, a um pensamento emitido, por mais secreto nos pareça, evidenciamos de imediato a faixa vibratória em que nos situamos, que terá pronta repercussão naqueles que estão na mesma freqüência vibracional. Assim, atrairemos aqueles que comungam conosco e que se identificam com a qualidade de nossa emissão mental.
     Através desse processo, captando as nossas intenções, sentindo as emoções que exteriorizamos e “lendo” os nossos pensamentos é que os Espíritos se aproximam de nós e, não raro, passam a nos dirigir, comandando nossos atos. Isso se dá imperceptivelmente. Afinizados conosco, querendo e pensando como nós, fácil se torna a identificação, ocorrendo então que passamos a agir de comum acordo com eles, certos de que a sua é a nossa vontade – tal a reciprocidade de sintonia existente.
     Não entraremos na questão do livre-arbírtio, sobejamente conhecida dos espíritas. Sabemos que a nossa vontade é livre de aceitar ou não estas influenciações. Que a decisão é sempre de nossa responsabilidade individual.
     O importante é meditarmos a respeito de quanto somos influenciáveis, e quão fracos e vacilante somos. O Espiritismo, levantando o véu dos mistérios, nos trás a explicação clara demonstrando-nos a verdade e, através desse conhecimento, nos dá condições de vencer os erros e sobretudo de nos preservarmos de novas quedas.
     Fácil é pois, aos Espíritos, nos dirigirem. Isto acontece com os homens em geral, sejam eles médiuns ostensivos ou não.
     É que, como médiuns, todos somos sensíveis a essas aproximações e ninguém há que esteja absolutamente livre de influenciações espirituais. Escolher a nossa companhia espiritual é de nossa exclusiva responsabilidade. Somos livres para a opção.
     No passado, sabemo-lo hoje, escolhemos o lado das sombras, trilhando caminhos tortuoso, tentadores, e que nos pareciam belos. Optamos pelo gozo material, escolhendo a estrada do crime, onde nos chafurdamos com a nossa loucura, enquanto fazíamos sofrer os seres que de nós se aproximavam. Muitos de nós ouvimos a palavra do Cristo e tivemos a sagrada ensancha de optar entre a luz e a sombra. Mas, aturdidos e ensandecidos, preferimos Mamon e César.
     Após essa desastrosa decisão, que repercutiria em nosso mundo íntimo, em tragédias de dores acerbas e sofrimentos prolongados pelos séculos afora, fomos rolando, quais seixos levados pela caudal de águas turbilhonantes, tendo junto a nós aqueles que elegemos como companheiros de jornada. Até que chegamos, finalmente, ao porto seguro do Consolador.
     Toda essa trajetória está magnificamente narrada por Joanna de Ângelis, no capítulo 24 do seu livro Após a Tempestade. E ela nos adverte de que já não há mais tempo a perder: “Estes são os momentos em que deveremos colimar realizações perenes. Para tanto, resolvamo-nos em definitivo a produzir em profundidade, acercando-nos de Jesus e por Ele nos deixando conduzir até o termo da jornada.”
     Eis a opção que o Espiritismo nos faculta agora. Escolha consciente, amadurecida. Escolha feita por quem já sabe e conhece. Por isto mesmo muito mais responsável.
(Segundo capítulo do Livro Obsessão Desobesessão- Suely Caldas Schubert).
      

A Obsessão

     “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
     Muito mais, do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questão 459).

     A assertiva dos espíritos a Allan Kardec demonstra que, na maioria das vezes, estamos todos nós – encarnados – agindo sob a influência de entidades espirituais que se afinam com o nosso modo de pensar e de ser, ou em cujas faixas vibratórias respiramos.
     Isto não nos deve causar admiração, pois se analisarmos a questão sob o aspecto puramente terrestre chegaremos à conclusão de que vivemos em permanente sintonia com as pessoas influenciações através das idéias que exterioriza, dos exemplos que nos são dados, e também que influenciamos com a nossa personalidade e pontos de vista.
     Quando acontece de não conseguirmos exercer influência sobre alguém de nosso convívio e que desejamos aja sob o nosso prisma pessoal, via de regra tentamos por todos os meios convencê-lo com argumentos persuasivos de diferente intensidade, a fim de lograrmos o nosso intento.
     Natural, portanto, ocorra o mesmo com os habitantes do mundo espiritual, já que são eles os seres humanos desencarnados, não tendo mudado,pelo simples fato de deixarem o invólucro carnal, a sua maneira de pensar e as características da sua personalidade.
     Assim, vamos encontrar desde a atuação benéfica de Benfeitores e Amigos Espirituais, que buscam encaminhar-nos para o bem, até os familiares que, vencendo o túmulo, desejam prosseguir gerindo os membros do seu clã familial, seja com bons ou maus  intentos, bem como aqueles outros a quem prejudicamos com atos de maior ou menor gravidade, nesta ou em anteriores reencarnações, e que nos procuram, no tempo e no espaço, para cobrar a dívida que contraímos.
     Por sua vez, os que estão no plano extra físico também se acham passíveis das mesmas influenciações, partidas de mentes que lhes compartilham o modo de pensar, ou de outras que se situam em planos superiores, e, no caso de serem ainda de evolução mediana ou inferior, de desafetos, de seres que se buscam intensamente pelo pensamento, num conúbio de vibrações e sentimentos incessantes. Essa permuta é contínua e cabe a cada indivíduo escolher, optar pela onda mental com que irá sintonizar.
     Portanto, a resposta dos espíritos a Kardec nos dá uma noção exata do intercâmbio existente entre os seres humanos, seja ele inconsciente ou não, mas, de qualquer modo, real e constante.
Do Livro Obsessão Desobsessão: (Profilaxia e Terapêutica Espírita).