sexta-feira, 22 de abril de 2011

Advento do Espírito de Verdade

     Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel,

Trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinarem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso so seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis”.
     Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao Reino de meu pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar:
     Orai e crede! Pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
     Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
     Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o Céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
     Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade”.

O Espírito de Verdade, Paris, 1860.

domingo, 17 de abril de 2011

O Amparo do Alto

     Atendendo ao pedido de seus apóstolos, Jesus, certa noite, visitou um homem que se achava em situação de muito sofrimento.
     Era um irmão com idade de 32 anos, que morava em humilde choupana, onde se percebia a carência do necessário à sua sobrevivência. Doente e sem ninguém para ajudá-lo, o homem sentiu um grande alívio quando Jesus penetrou o recinto onde se encontrava e o saudou com votos de paz.
     O Mestre, comovido com a situação de penúria daquela casa e diante das rogativas de seus apóstolos, perguntou-lhe:
    - Que queres que te faça?
    - Senhor, tenho sede – disse o homem.
     O Mestre, colhendo uma lágrima que descia dos olhos do doente, transformou-a em um refrescante copo d’água. O homem, avidamente, bebeu.
    - Senhor, tenho fome!
     O Mestre, apanhando uma pedra que se achava no chão, próxima ao enfermo, transformou-a num pão, que foi rapidamente consumido pelo homem.
    - Senhor, perdi minha saúde!
     O Mestre, soprando-lhe o rosto, devolveu-lhe a saúde, e ele imediatamente sentiu-se revigorado e disposto.
    - Senhor, estou nu!
     O Mestre, de posse de uma flor colhida em lugar próximo, ordenou que a mesma se transformasse numa vestimenta, que ofertou ao homem.
     Superados todos os sofrimentos que afligiam aquele homem, Jesus e seus apóstolos abençoaram aquela casa e se dispuseram a sair, quando ele ainda fez um pedido:
    - Senhor, permite que eu vá ao quintal e te traga novas pedras, para que as transformes em pães, pois nada tenho para o meu sustento.
     E assim foi feito, de modo que, ao sair dali, Jesus deixou um enorme cesto repleto de pães. O ex-sofredor teve uma noite de sono reconfortante e feliz.
     Amanheceu o dia e ele, muito disposto, buscou o cesto de pão e se alimentou como quis. Foi até a porta, olhou adiante, viu os seus vizinhos saindo para o trabalho e pensou: “para que trabalhar, se tenho sustento para vários dias?”
     Deitou-se preguiçosamente na rede e dormiu. Dormiu o dia todo, comodamente realizado. Acordou, já alta hora da noite, sentindo muita fome.
     Ao tentar se levantar, sentiu dores profundas, Aturdido, constatou o inesperado: a doença voltara. Quis sair e deparou-se com nova surpresa: estava nu, a vestimenta desaparecera. Com esforço, pegou um pão do cesto e mordeu-o para matar a fome. Uma grande dor maltratou-lhe os dentes. Ao invés de pão, havia mordido uma pedra. Olhou, viu o cesto repleto de pães. Retirou outro, mordeu e a cena se repetiu. Provou todos os pães e todos eram novamente pedras.
     Ele ficou revoltado. Fora enganado, pensou. Entregue ao desespero, lamentou, reclamou, praguejou muito, até que apareceu um Anjo do Senhor e lhe falou:
    - Escuta aqui: Ontem, o Senhor satisfez todas as tuas necessidades. Em troca, que fizeste? Ao passar aqui hoje à tarde e te ver preguiçosamente espojado, sem buscar o trabalho que enobrece e justifica, o Mestre decidiu que voltarias à condição que mereces.

     A culpa de nossos fracassos está em nós mesmos. Olhando o passado, quantas situações desagradáveis teríamos evitado se tivéssemos agido prontamente.
     A negligência, a acomodação, o deixar passar, muitas vezes trazem o infortúnio que não queríamos.
    Se você sofreu algum revés, examine seus passos. O bem temporariamente suprimido é recurso do Alto para melhor nos preparar para conquistas maiores.
     O milagre da transformação de pedras em pães acontece no nosso dia-a-dia. É a natureza produzindo para nos nutrir.
     Escolher entre fazer ou esperar, prosseguir ou desistir, avançar ou recuar é opção livre de cada um.
     Agora, uma coisa é verdadeira e foi muito bem enaltecida por Jesus: “a cada um será dado segundo as suas obras (Mateus 16-27).
 Do Livro: Histórias que ninguém contou - Conselhos que ninguém deu.
(Novos caminhos, Novas descobertas).

Ação das Obsessões e o Combate que Exigem

As obsessões fazem você:
Ver dragões onde há minhocas;
Impacientar-se a troco de nada;
Interpretar com malícia as intenções alheias;
Ficar a todo tempo tenso, como se houvesse perigos em toda parte, e qualquer um fosse atacá-lo a qualquer momento (impulso paranóico);
Desejar fora de hora ou medida ou de alvo;
Ter surtos de raiva, inveja, posse ou poder em relação a pessoas, acontecimentos e posições sociais ou propriedades materiais;
Sentir pena de si, colocar-se como vítima ou ao contrário: com culpa por tudo e condenado inapelavelmente;
Ter medo, além do razoavelmente esperado, e sentir-se continuamente ameaçado, pela velhice ou pela doença, pela crítica ou pela pobreza, pela injustiça ou pela ingratidão dos outros;
Sentir-se caso perdido, sem esperanças ou meio de resgate e salvação, sem acreditar em si mesmo, em Deus ou em ninguém, impelindo-o a render-se, por fim, à total desesperação.
Claro que há momentos em que o perigo e a traição são reais, em que o ataque de fato acontece e em que o impulso de agir imediatamente está certo e oportuno. Falo, porém, do estado de estresse, angústia, medo e desconfiança sistemáticos, que confundem a psique, infelicitam-na, atrapalham as percepções e avaliações que se façam de eventos e pessoas e que por fim levam a alma a um estado de negatividade e de mesquinharia que acaba por se instalar no comportamento do indivíduo, com variantes concorde a personalidade do envolvido pelos tentáculos do mal.
Outrossim, importante observar que aludi a “obsessões” e não a “obsessores”, visto que, amiúde, todo processo perturbador tem nascente e escoadouro no próprio psiquismo do indivíduo; e pelo fato de que, além do mais, ainda que haja agentes externos (encarnados e desencarnados: e muitos há, mais do que se gostaria de admitir) a insuflar padrões patológicos de pensamento e sentimento, são as estruturas conceituais e emocionais do próprio “obsediado” que entram em ressonância com a vibração do inimigo exterior, para, então, colher-lhe as sugestões telepáticas, induzidas ou verbalizadas.
Para imunizar-se deste assalto constante das forças constituídas do mal, lembre-se de que o mundo em que está encarnado é bastante rico de expressões contrárias ao impulso do bem, como de patógenos com relação à vida orgânica complexa, multicelular, e que somente com um sistema psico-espiritual de defesa eficiente é possível proteger-se das constantes tentativas de invasão e controle por parte dos “inimigos espirituais”, da mesma forma que um sistema imunológico é imprescindível ao corpo físico, para sua defesa.
Importante ainda distinguir invasão de controle. Sempre há elementos destrutivos pervagando a mente saudável e sob auto-domínio, apesar de tais agentes não determinarem seu comportamento, nem lhe dominarem seus fluxos de raciocínio e emoção. É o mesmo que acontece com a enormidade de microorganismos potencialmente fatais, que pululam na corrente sangüínea, no aparelho digestivo e na pele de seres humanos e animais, nem sempre causando enfermidades, pelo contínuo combate levado a efeito pelo sistema imunológico.
E o que seria o sistema de defesa psico-espiritual, espécie de sistema imunológico psicológico-moral? Um conjunto de reações condicionadas altamente lúcidas e espirituais, com aspectos intelectivos e emocionais, em perfeita comunhão com a fé, que canaliza para o indivíduo o socorro de inteligências mais avançadas e bondosas, representantes de Deus, no intuito de vencer no embate com os agentes da desagregação e da decadência.
Oração, auto-disciplina, estudo constante, auto-crítica, um consolidado sentido de responsabilidade por tudo que acontece consigo ou em torno de si, generosidade, devoção, paz – tudo isto em regímen de esforço permanente, esforço paradoxalmente sereno (para que não haja pane, colapso, em uma psique sobrecarregada), como uma fortaleza que se erigisse dia a dia, portas a dentro de si mesmo, assim como o sistema imunológico que se fortalece, em contato com agentes nocivos, como se dá com criancinhas que andam de pés descalços ou profissionais da saúde que trabalham horas por dia em ambientes infectados sem contrair enfermidades graves, freqüentemente, como seria de se esperar.
Assim, em vez de mal-dizer as obsessões, entenda que constituem seu maior auxiliar evolutivo; e que, através da relação ativa que desenvolva com elas, no sentido de ininterruptamente processá-las, empenhando-se, quanto possível, em não se render às suas sugestões, estará não só fortalecendo, amadurecendo e enobrecendo seu caráter e sua personalidade, como ainda gerando meios e poder de auxiliar seus entes queridos e todos que puderem usufruir de sua influência pessoal.
Percebe-se, assim, mergulhados como estão os encarnados em verdadeiro oceano de energias e freqüências mentais díspares, por motivo algum, se pode relaxar no seu esforço de vigilância. Não por acaso sugeriu o Mestre Amado que vigiássemos e orássemos para não cairmos em tentação, porque, de fato, a todo instante, está-se, quando encarnado, sob saraivada contínua de forças deletérias e em desajuste, um bombardeio constante de vibrações desencontradas, que exigem permanente determinação e combate da alma devota e da mente lúcida, no sentido de manter o equilíbrio, a paz e a operacionalidade em seus vínculos, compromissos e responsabilidades assumidos, até mesmo em atividades de lazer, repouso e interação descontraída entre companheiros.
Cuidado, em particular, com toda forma de vaidade excessiva, orgulho ferido, medos contínuos ou prevenção sistemática com relação a certas pessoas (pode, mais do que imagina, estar sendo hipnotizado para mal-querer alguém, ou projetando questões íntimas suas, inconscientemente), pessimismo ou depressão, desejos, iras, invejas, ciúmes ou ambições desmedidas, complexo de culpa, vítima ou inferioridade, bem como puritanismo ou fanatismo (com ímpetos de “caça às bruxas” ou à perseguição de “bodes expiatórios”) porque, sem dúvida, por suas portas – mais do que se costuma supor no plano físico, em discursos bem elaborados pela racionalização do ego-razão, que sempre encontra motivos para justificar o injustificável e construir uma realidade paralela de significados para pretextar o que deseja viver – as obsessões adentram e, amiúde, infiltram-se nas mais profundas entranhas da alma, enovelando-a em sufocantes cipoais de mesquinharia, ódio, desejo de vingança, maldade e desconfiança, que, não raro, consomem séculos e encarnações sucessivas, para que seja propiciada libertação de seus cativos semi-voluntários, semi-zumbis, condenados pela loucura parcial de infelicidade a que se confiam...

Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.