domingo, 15 de julho de 2012

Auto – Obsessão

     Emmanuel, no prefácio do livro Mediunidade e Sintonia, dá um outro enfoque para o ditado popular “dize-me com quem andas que te direis quem tu és”. O mentor de Chico Xavier ressalta que nossos pensamentos ditam nossa conduta e que, de acordo com nossa conduta, expressamos nossos objetivos e amealhamos companhias como as que desejamos nos parecer.
     Nossas idéias exteriorizadas criam, portanto, imagens tão vivas quanto desejamos.
     Não podemos nos esquecer que a idéia é um “ser” organizado por nosso espírito, a que o pensamento dá forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção.
     Como nossas ações são fruto de nossas idéias, geramos a felicidade ou a desventura para nós mesmos, devido às suas próprias criações mentais.
     No livro Libertação, André Luiz se refere a dois casos de auto-obsessão. O primeiro deles é o de um investigador de polícia que abusou de sua posição para humilhar e ferir. Durante alguns anos, conseguiu manter o remorso a distância; todavia, cada pensamento de indignação das vítimas passou a lhe circular na atmosfera psíquica, na aura, aguardando o momento de se impor.
     Com a sua maneira cruel de proceder, não só atraiu a ira de muita gente, mas também a companhia constante de entidades de péssimo comportamento, que só fizeram aumentar os seus distúrbios mentais.
     Com a chegada da terceira idade, o remorso abriu-lhe grande brecha na fortaleza em que se entrincheirava. Sobrevindo a crise, mente em desvario, vergastou-lhe o corpo físico, e não apenas o sistema nervoso foi lesado, mas também o fígado que se encaminhava para a cirrose fatal.
     Convidado a diagnosticar o caso, o instrutor Gúbio não teve dúvidas:
     “Este amigo, no fundo, está perseguido por si mesmo, atormentado pelo que fez e pelo que tem sido. Permanece dominado pelos quadros malignos que improvisou em gabinetes isolado e escuros, pelo simples gosto de espancar infelizes, a pretexto de salvaguardar a harmonia social. A memória é um disco vivo e milagroso. Fotografa as imagens de nossas ações e recolhe o som de quanto falamos e ouvimos...
     Por intermédio dela, somos condenados ou absolvidos, dentro de nós mesmos.
     Para sair de semelhante situação, somente uma estrema modificação mental para o bem, acentuou.”
     Em atendimento apométrico, teríamos que tentar desfazer as ideoplastias mais consolidadas, orientar para o perdão a si mesmo, para a atitude cooperativa em favor dos outros, incluindo-se suas próprias vítimas, e a reforma íntima, como diz o instrutor Gúbio. Evidentemente, precisamos de desdobramento múltiplo para se encontrar e  tratar as personalidades perversas existentes em seu psiquismo e também atender a possíveis comparsas espirituais a quem o paciente pode ter se ligado.
Caso do Escritor Desencarnado
     O outro caso é o de um escritor atormentado pelas próprias criações mentais negativas e destrutivas que descreveu em seus livros. Não se trata de Espírito encarnado, mas o colocamos aqui, porque é a história de alguém perseguido por si mesmo.
     E essa situação poderia se configurar idêntica para qualquer escritor encarnado que se comportasse de igual maneira e estivesse em idade provecta, já suscetível de as perceber, pelas brechas na consciência.
     Quando pediu socorro a André Luiz, no mundo espiritual, o homem de letras confessou que nunca se interessou pelo lado sério da vida. Cultivava o chiste malicioso e com ele o gosto da volúpia, estendendo suas criações à mocidade. Não foi alguém de fama, mas, mesmo assim, influenciou, negativamente, muitos jovens arrastando-os a perigosos pensamentos.
     Depois da morte, vinha sendo  procurado pelas vítimas de suas insinuações e por outras entidades que lhe davam ordens para ações indignas, as quais, em sã consciência, não podia acatar. Compreendeu, então, por essas investidas, que manteve ligação com uma quadrilha de Espíritos perversos e galhofeiros, quando estava no corpo físico.
     Queixava-se de certas formas estranhas que atormentam seu mundo interior, como se vivessem incrustadas na sua própria imaginação. Assemelhavam-se a personalidades autônomas, só que visíveis somente aos seus olhos. Falavam, gesticulavam, acusavam-no, riam-se de sua situação.
     Eram imagens vivas de tudo o que o seu pensamento e sua mão de escritor criou para anestesiar a dignidade dos seus semelhantes. Elas investiam contra ele, apupavam-no e vergastavam seu brio, como se fossem filhos rebelados contra um pai criminoso. Segundo confessou, tem vivido ao léu, como um alienado mental.
     Os personagens de seus escritos voltavam, sob a forma de ideoplastias ou formas – pensamentos, para atormentá-lo.
     Como vemos, esse processo é suscetível de acontecer no mundo espiritual ou durante a encarnação.
     Em ambos os casos, só com extrema modificação mental e persistente reforma íntima, cada protagonista conseguirá melhorar a sua psicopatologia.
     Aprendemos com os benfeitores espirituais que a maldade deliberada é moléstia da alma e a modificação no plano mental das criaturas jamais pode ser imposta, é, ante, fruto de tempo, de esforço e de evolução.
     Dentro da Apometria, esse caso, tal como a história do policial, deverá ter tratamento idêntico. Em casos de auto-obsessão, devemos sempre aplicar cromoterapia mental procurando envolver o espírito ou nível consciencial em vibrações na cor violeta, do forte até o suave, visando diminuir-lhe as condensações de energia negativa, geradas pela culpa, que o oprimem como uma couraça.
Fonte: Apometria e Animismo
Autor: J.S. Godinho.

Obsessões de Natureza Anímica

     Obsessão Telepática – Caso Anésia e Jovino
     “Áulus, o benfeitor espiritual, foi chamado a auxiliar o casal Anésia e Jovino e suas três filhinhas. Anésia, além de suas preocupações naturais com a educação das filhas e a assistência à mãe muito doente, às vésperas de desencarnação, sofria tremenda luta íntima, uma vez que Jovino, o esposo, vivia agora sob a estranha fascinação de outra mulher. Esquecera-se, invigilante, das obrigações no lar. Parecia, de todo, desinteressado da companheira e das filhas (...). Dia e noite deixava-se dominar pelos pensamentos da nova mulher que o enlaçara na armadilha de mentirosos encantos.
     Em casa, nas atividades da profissão ou na via pública, era ela, sempre ela, a senhorear-lhe a mente desprevenida.
     Transformara-se o mísero num obsediado autêntico, sob a constante atuação da criatura que lhe anestesiava o senso de responsabilidade para consigo mesmo.
     Áulus, André Luiz, Hilário e Teonília, em caravana, deslocaram-se à residência do casal para prestar assistência fraterna. Chegaram, ao anoitecer, no momento do jantar.
     Anésia, a jovem senhora, servia, atenciosamente, ao marido, maduro e bem posto, que se encontrava à mesa, ladeado pelas três meninas. A palestra familiar desdobrava-se afetuosa, mas o dono da casa parecia contrafeito. Nem mesmo os doces apontamentos da jovens arrancavam-lhe o mais leve sorriso. A mãe, ao contrário, desdobrava-se em carinho, incentivando a conversação das filhas.
     Terminada a refeição, enquanto Anésia ocupava-se no arranjo da copa e da cozinha, o marido se esparramava numa poltrona, devorando os jornais vespertinos.
     Reparando que Jovino preparava-se para sair, a esposa perguntou-lhe, um tanto inquieta, se poderia esperá-lo para as preces que fariam logo mais. Ouviu como resposta uma negativa, proferida com um certo ar de sarcasmo em relação ao valor da prece e acrescida da justificativa de que teria compromissos inadiáveis com amigos para estudo de excelente negócio.
     Naquele instante, contudo, surpreendente imagem de mulher surgiu-lhe à frente dos olhos, qual se fora projetada sobre ele a distância, aparecendo e desaparecendo com intermitências.
     Jovino fez-se mais distraído, mais enfadado. Fitava agora a esposa com indiferença irônica, demonstrando inexcedível dureza espiritual.
     Por mais que Anésia tentasse uma conversação amigável, não conseguiu retê-lo. Depois de apurar o nó da gravata, bateu a porta com força e retirou-se.
     A companheira humilhada caiu em pranto silencioso sobre velha poltrona e começou a pensar, articulando sem palavras:
     Negócios, negócios... Quanta mentira! Uma nova mulher, isso sim!... Mulher sem coração não nos vê os problemas... Dívidas, trabalhos, canseiras! Nossa casa hipotecada, nossa velhinha a morrer!... Nossas filhas cedo arremessadas à luta pela própria subsistência.
     Nesse momento, apresenta-se na sala a mesma figura de mulher que surgira à frente de Jovino, aparecendo e reaparecendo ao redor da esposa triste. Esta não via com os olhos a estranha e indesejável visita, no entanto, percebera-lhe a presença sob a forma de tribulação mental. E, inesperadamente, passou a emitir pensamentos tempestuosos.
     Lembro-me dela, sim – refletia agora em franco desespero – conheço-a, é uma boneca perversiva... Há muito tempo vem sendo um veículo de perturbação para a nossa casa. Jovino está modificado... Abandona-nos, pouco a pouco. Parece detestar até mesmo a oração... Ah! Que horrível criatura uma adversária qual essa, que se imiscui em nossa existência à maneira de víbora traiçoeira! Se eu pudesse, haveria de esmagá-la com os meus pés, mas hoje guardo uma fé religiosa, que me forra o coração contra a violência...
     À medida, porém, que Anésia monologava intimamente em termos de revida, a imagem projetada de longe abeirava-se no ambiente para infundir-lhe mais amplo mal-estar.
     A mulher que seduzira Jovino materializara-se aos olhos de Áulus, André Luiz e amigos.
     E as duas, assumindo a posição de francas inimigas, passaram à contenda mental! (...) Lembranças amargas, palavras duras, acusações recíprocas.
     Anésia passou a sentir desagradáveis sensações orgânicas, muita tensão cerebral.
     Áulus foi informado de que há muitas semanas, diariamente, esse conflito se repete.
     O instrutor espiritual deu-se pressa em ampliar-lhe recursos magnéticos de alívio e, desde então, as manifestações estranhas diminuíram até cessarem por completo.
     Áulus explicou, então, que Jovino estava sob imperiosa dominação telepática, à qual deixou-se enredar facilmente. Essa atuação passou a evolver também a esposa, em virtude do regime de influência mútua em que respiram marido e mulher, principalmente porque Anésia não tem sabido imunizar-se com os benefícios do perdão incondicional.
     Perguntado se o fenômeno era comum, Áulus respondeu que é intensamente generalizado e acrescentou: É a influenciação de almas encarnadas entre si que, às vezes, alcança o clima de perigosa obsessão. Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de luta, em que pensamentos guerreiam pensamentos, assumindo as mais diversas formas de angústias e repulsão.
     Indagado também se o assunto poderia ser enquadrado nos domínios da mediunidade, respondeu:
     Perfeitamente, cabendo-nos acrescentar ainda que o fenômeno pertence à sintonia. Muitos processos de alienação mental guardam nele as origens. Muitas vezes, dentro do esmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se vêem possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte. Para isso, não será necessário que a perseguição recíproca se expresse em contendas visíveis. Bastam as vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência e desespero, as quais, alimentadas, de parte a parte, constituem corrosivos destruidores”.
     O remédio mais eficaz é a fraternidade operante. Por isso mesmo, o Cristo aconselhava-nos o amor aos adversários, o auxílio aos que nos perseguem e a oração pelos que nos caluniam.
     Como reconhece Aksakof, “nos fatos da telepatia, é frequentemente difícil precisar o momento no qual o fato anímico se torna um fato espirítico.
     Na obsessão telepática ficam configuradas as ocorrências mais comuns de influência negativa entre encarnados. É genericamente conhecida como a obsessão de encarnado para encarnado.
     Quando trazido à mesa apométrica devemos abrir a freqüência de todos os envolvidos, inclusive a da moça”obsessora obsedada”. Cada um deve ser incorporado, doutrinado e conscientizado de suas responsabilidades diante da vida no que concerne a erros de passado, ações equivocadas do presente, compromissos e comprometimentos que podem inviabilizar os resgates programados e agravar o carma futuro, e o que fazer para desvencilhar-se da atual situação. Seria um atendimento onde se utilizaria de regressão de memória (salto quântico) pra relembrar o passado culposo e entender o porquê dos problemas do presente; relembrar os compromissos assumidos quando da programação encarnatória; e ver a conseqüência que o abandono da proposta pode acarretar. É importante fazer com que cada personagem veja e entenda que cada um é vítima de si mesmo. E por fim, orientar os envolvidos para a realidade espiritual e anímica do problema, e para a busca da reforma íntima e vivência mais de acordo com a proposta do Evangelho de Jesus.
Fonte: Apometria e Animismo
Autor: J.S. Godinho