quinta-feira, 29 de novembro de 2012

POR QUE SEXUALIDADE?

Sexualidade é um tema recorrente nas discussões de nossa época. Talvez não fosse assim no tempo em que foi lançado O Livro dos Espíritos. Se fosse, haveria mais perguntas a respeito, provavelmente questões sobre liberação sexual, homossexualidade, DST, provetas, clonagem etc. Mas não, tais temas não são diretamente abordados na codificação espírita. Isso não impede, porém, que reflitamos sobre eles e, debruçados sobre a revelação espírita, cheguemos a algumas conclusões. Jamais conclusões definitivas e dogmáticas, uma vez que somos espíritos em evolução e limitados nas nossas percepções. Conclusões coerentes é o que almejamos e, como dizia Allan Kardec, se adiante ficar provado que nosso pensamento é contrário à verdade, abriremos mão dele, para aceitar o incontestável. Esta é a postura espírita que abraçamos e que nos embasa hoje, nesta palestra.
O SEXO DOS ESPÍRITOS
O sexo sempre foi um tema interessante na História da Humanidade. Já foi julgado por diversos prismas e, na sociedade cristã medieval, alcançou o status de pecado, que até hoje permeia nossas cabeças. Isto causou muitos danos à saúde coletiva, pois adoeceu psicologicamente muitas pessoas pela repressão do instinto sexual, e fomentou ontem e hoje, alguns dramas de proporções gravíssimas, como o incesto e a pedofilia.  No século XIX, quando surgiu a Doutrina Espírita, a sociedade cristã ocidental começava uma grande revolução paradigmática. No campo da sexualidade, a pergunta principal referia à igualdade dos sexos. Por isso, quando o assunto sexo apareceu claramente na primeira obra espírita da História, o que vimos foi a seguinte questão:
“Os Espíritos têm sexo? – Não como o entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos. “ (questão 200)
A partir de tal resposta, nas questões 817 a 822 da mesma obra, Kardec procura saber, uma vez que os espíritos não têm sexo, se homem e mulher , sendo espíritos encarnados em corpos de constituições diferentes, possuem os mesmos direitos.
DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES
Os Espíritos, então, dizem que os direitos são os mesmos, mas as funções não! E ditam uma frase que por muito tempo me incomodou:
 “Que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um segundo sua aptidão.” (Questão 822)
Como assim?!
Quer dizer que o homem vai trabalhar na rua e a mulher na cozinha? Ah! Não!
Essa afirmação me indignou porque sou uma mulher nascida no Século XX, e já colhi os frutos da revolução sexual, começada na década de 60. Faço parte de uma outra geração de mulheres, que não são as Amélias. Ora, é verdade que o movimento feminista já estava se formando quando surgiu o Espiritismo, mas somente em meados do século XX é que a Ciência presenteou a mulher com a seguinte “prenda”:
A PÍLULA ANTICONCEPCIONAL!!!!!
A REVOLUÇÃO SEXUAL
Daí o movimento de emancipação da mulher ganhou força e uma nova revolução se fez: a revolução sexual. Claro que não foi só isso, o mundo todo convulsionava, tínhamos saído de duas grandes guerras, os paradigmas antigos estavam ameaçados, a Igreja enfraquecida e, com ela, as recomendações de sexo após o casamento, de abstinência etc. Mas sem que nos estendamos na História, porque não é o nosso objetivo aqui, o fato é que, com a pílula anticoncepcional, a mulher pôde finalmente se igualar ao homem não apenas no mundo do trabalho, mas no universo das relações sexuais!
É desta geração que eu venho. E esta geração é a que se choca com resposta dos espíritos. Mas, se tivermos um pouco de boa vontade e nos atermos um mais ao estudo desta questão, com base no conceito de libido, que é a energia sexual, veremos que sim, O Livro dos Espíritos está certo!
SEXO COMO ENERGIA
Vamos entender como. Pensemos o sexo como energia, que podemos chamar libido, que a própria psicologia define como sendo a energia utilizada não apenas na realização do ato sexual, mas em toda ação criadora. Alguns espíritos a definem como energia “desencadeadora de motivações” (Manoel P. de Miranda, em Sexo e Obsessão). Ou ainda como “força de amor” (André Luiz, em Ação e Reação).
Sendo o sexo energia, ele possui polaridades. Na filosofia chinesa do Tao essas polaridades são representadas pelo diagrama do Tao. Segundo os chineses, o Tao é identificado com o absoluto que, por divisão, gerou os opostos/complementares yin e yang, a partir dos quais todas as "dez mil coisas" que existem no Universo foram criadas. O sexo é uma das expressões materiais do Tao, como o Amor é a sua expressão espiritual.
Sexo e amor são movimentos de busca de equilíbrio entre polaridades, como representa o diagrama mencionado. Nele, vemos que os contrários emergem um do outro.  Como espíritos completos que somos, criados à imagem e semelhança do divino, que é o Absoluto, possuímos ambos os pólos sexuais, que no Taoísmo são denominados Yin e Yang, e no mundo ocidental são o feminino e o masculino.
Acreditamos que a idéia dos opostos complementares dos chineses tem muita relação com os ensinamentos dos Espíritos. Quando se afirma que o homem cuida do exterior e a mulher do interior, se pensarmos em termos de polaridades, e substituirmos as palavras homem e mulher por masculino e feminino, constatamos que os espíritos têm razão.
FEMININO X MASCULINO
O masculino é a polaridade energética sexual que habita todos nós, homens e mulheres, e que se volta para o exterior. De forma análoga, o feminino é a polaridade energética sexual que todos possuímos, homens e mulheres, e que se volta para o interior!
Assim concluímos, a partir da Doutrina Espírita, que do ponto de vista espiritual somos femininos e masculinos, podendo reencarnar como homens ou mulheres, segundo as nossas necessidades de desenvolvimento. Entretanto, por experiências nossas, podemos estar atuando mais em um pólo que outro, ser mais Yang ou Yin, e o que determina isso não é o corpo, mas o Espírito. Daí algumas mulheres serem eminentemente Yang ou masculinas, como uma Dilma Roussef, e alguns homens serem eminentemente Yin ou femininos, como foi Chico Xavier.
Entendam, não estamos falando ainda de homossexualidade, mas de expressões da libido. O fato de uma mulher atuar mais no pólo masculino ou um homem atuar mais no pólo feminino não determina a homossexualidade.
HOMOSSEXUALIDADE
Para falar de homossexualidade, temos que ter bem claro o que é ser HOMOSSEXUAL.
O adjetivo homossexual significa literalmente "mesmo sexo", sendo um híbrido formado a partir de Grego homo- (uma forma de homos "mesmo"), e "sexual" do latim medieval sexualis.
Preferimos usar a palavra Homossexualidade no lugar de Homossexualismo porque o sufixo "ismo" é preferencialmente utilizado para referenciar posições filosóficas ou científicas sobre algo. Em alguns dicionários, o homossexualismo aparece definido por prática de atos homossexuais, enquanto o termo homossexualidade é aplicado a atração sentimental e sexual. Também por isso, muitas pessoas consideram que o termo homossexualismo tem um significado pejorativo, e isto tem levado a que o termo seja hoje em dia mais utilizado por pessoas que têm uma visão negativa da homossexualidade.
A homossexualidade, como hoje define a Ciência,  é uma das três orientações sexuais reconhecidas normais:
            - heterossexualidade: atração pelo sexo oposto
- homossexualidade: pelo mesmo sexo
            - bissexualidade: por ambos os sexos

O termo foi criado em 1869, por um psiquiatra húngaro chamado Karoly Benkert, para classificar como doentes e não criminosos – como eram então considerados – , os homens que praticavam sexo com outros homens. Em 1993 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista das doenças mentais e hoje qualquer psicólogo ou psiquiatra que se proponha a “curá-la” está ferindo o Código de Ética dos  Profissionais de Saúde e pode cassado no seu direito de exercer a profissão.
Enfim, para todos os efeitos, segundo as leis que regem a atuação dos diversos profissionais de saúde, a HOMOSSEXUALIDADE NÃO É DOENÇA!
ORIENTAÇÃO E COMPORTAMENTO SEXUAL
Prestemos atenção ao seguinte:
ORIENTAÇÃO SEXUAL É DIFERENTE DE COMPORTAMENTO SEXUAL.
Há na Bíblia uma frase fantástica, atribuída à Paulo de Tarso: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.
E o que nos convém sexualmente?
Diz Emmanuel, em Vida e Sexo: “Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno com devido respeito aos outros e a si mesmo (...).”
O que nos convém é, portanto, um comportamento sexual saudável, seja qual for nossa orientação sexual.
Pedir a um homossexual que se abstenha é a mesma coisa que pedir a um heterossexual. E a abstinência involuntária é porta aberta ao desequilíbrio, como na Idade Média, quando o sexo era sinônimo de pecado e somente devia ser praticado com fins procriativos. Quanto desequilíbrio custou esta visão distorcida do celibato! Quantas mulheres prostituídas, crianças vítimas de pedofilia, por conta de nossa ignorância acerca do sexo!

SEXO SÓ PARA PROCRIAR?
Neste interim, podemos estender nossas reflexões a todas as pessoas, a despeito de sua orientação sexual.
Então, o sexo não existe apenas para fins procriativos?
A relação sexual é uma manifestação da natureza humana, nada possui de impróprio, e pode ser um instrumento maravilhoso de refazimento e reequilíbrio da energia vital, para as lutas do cotidiano. 
Segundo a médium norte-americana Barbara Brennan, em seu livro Luz Emergente, durante o ato sexual há uma intensa troca de energia, que se manifesta aos olhos dos videntes como uma explosão semelhante aos fogos de artifício, que afeta radicalmente o funcionamento dos chakras. Quando feito com amor, tal ato pode recuperar chakras danificados e reabastecer o corpo espiritual de vitalidade, combatendo a depressão e outras doenças, inclusive físicas. Mas se feito de forma irresponsável e descomprometida, o efeito pode ser justamente o contrário, como tão bem ilustra André Luiz nas obras psicografadas por Chico Xavier, especialmente o livro Sexo e Destino. As energias sexuais, manipuladas desordenadamente, podem ser porta aberta ao desequilíbrio e á obsessão.
O problema, porém, não é o sexo, mas como se utiliza o sexo.
BENEFÍCIOS DO SEXO
Meu irmãos, se o sexo é a união criativa, é força de equilíbrio, e detê-la é promover o desequilíbrio. Verdade que, quanto mais desmaterializado o ser, menos material será sua sexualidade, e menos polarizada. São os casos de Jesus, de Francisco de Assis. Não é que eles não tivessem energia sexual, mas neles ela foi sublimada, totalmente sutilizada. Não foi repressão, mas transformação. A energia, que se expressava num nível micro, passou ao macro, o amor deixou de ser unilateral e tornou-se universal! Entretanto, a mudança é natural, jamais forçada. Não se apressa o rio, ele corre por si só, no ritmo que convém.
Por enquanto, se necessitamos do sexo, que seja feito com responsabilidade. Por isso concluímos que não há nada de errado nos métodos anticoncepcionais.
“Ah! Mas não é contrário à Lei natural evitar que nasçam os filhos?”, pode questionar alguém. E responderemos que pentear os cabelos, escovar os dentes, arrumar a casa também não são atitudes naturais. Elas são aprendidas, são culturais. Nem por isso são perniciosas. Nós usamos carros e aviões, que não são produtos da natureza, nem por isso são maus. Então, por que, em matéria de sexo, devemos permanecer como os primatas, em nome da obediência cega à natureza humana? Fosse assim, um homem escolheria sua mulher puxando-a pelos cabelos!
Continuando esta mesma reflexão, levantemos outras perguntas: a relação sexual entre seres do mesmo sexo, não é contrária à Natureza?
Não podemos afirmar que a homossexualidade não seja natural, uma vez que existem relações homossexuais até mesmo entre alguns animais, que são eminentemente instintivos.
Por outro lado, já me questionaram por que, então, se não importa a orientação sexual, nascemos em corpos femininos e masculinos.
AS DIFERENTES EXPERIÊNCIAS DE SER HOMEM E SER MULHER
Ora, ser homem ou mulher envolve experiências que transcendem o ato sexual. Não podemos determinar que um homem é homem apenas porque se relaciona sexualmente com mulheres. Nascer em um corpo masculino, por exemplo,  requer hormônios diferentes dos femininos! A estrutura fisiológica não é a mesma! Culturalmente, ser homem traz uma conotação diferente de ser mulher. Psicologicamente, homens e mulheres funcionam de formas distintas! Isto tudo, sem precisar falar de ato sexual.
Então, nascer mulher ou homem me permite experiências únicas e distintas, mesmo que eu seja homossexual!
Entendam, irmãos, não estou dizendo que nós, espíritas, devemos “tolerar” os homossexuais. Estou dizendo que nossa preocupação não deve ser com a orientação sexual, mas, repito, com o comportamento sexual. Não me preocupa se um filho meu é ou não homossexual, mas se ele é ou não uma pessoa de bem!
O Espiritismo, sobre este assunto, se antecipou em anos ao que a OMS só assumiu recentemente, pois em 1963, no livro Sexo e Destino, do Espírito André Luiz, o benfeitor Félix já dizia:

“(...) no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais, quanto em condições julgadas anormais segundo os valores da sociedade, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível da dignidade humana (...)”
A QUESTÃO DO "FICAR"
Mas, sobre o comportamento sexual, importa ainda refletir a respeito de algo muito atual: o “fica” e o sexo antes do casamento.
Eu achava que esta era uma questão ultrapassada, mas como convivo com alguns adolescentes, percebi que ainda é presente nos dias de hoje. E como o comportamento sexual tem sofrido modificações muito rápidas nas últimas décadas, nós, os pais, também ficamos perdidos, sem saber como agir...
Bem, o que percebo é que na minha época já existia o fica, que antecedia o namoro, que antecedia o noivado, que antecedia o casamento. Hoje, talvez, ainda esteja tudo nesta mesma ordem, mas as regras do jogo mudaram.
FICAS: O “fica” se divide entre o ficar fortuito e o ficar continuamente. Aquele com quem se fica continuamente é o “ficante”. Não é namoro porque não há obrigação nenhuma de fidelidade, de satisfação, nem obrigação de colocar “relacionamento sério” no Facebook. Em alguns casos há sexo, em outros não. Quando os ficantes ficam ficando muito tempo (Uau! Que enrolado!), acabam namorando.
NAMORAR E CASAR
Os namoros de hoje em dia são quase casamentos. Já rola tudo. Nem se iludam as mães e os pais. É só uma questão de tempo o sexo acontecer no namoro. E eles viram quase donos uns dos outros. Ai daquele que não publicar fotos do casal nas redes sociais e não divulgar que está namorando! Já podem dormir juntos, viajar juntos, alguns dividem o cartão de crédito e as contas a pagar. Isso, cada um morando na sua casa. Ás vezes noivam, só para colocar uma aliança no dedo e divulgar o compromisso, mas não necessariamente com data para o casório...
O que me admira é que mesmo com todas essas “permissividades”, ainda existam os que noivam e casam!
Pois têm! E o casamento não mudou muito as regras, só mesmo a igualdade entre os cônjuges aumentou, muitas mulheres não sabem cozinhar e os homens conseguem cuidar dos bebês. Nem todos são assim, mas caminhamos para isso...
Bom, mas qual nossa opinião a respeito?
Muito simples: estamos progredindo. Antes, os jovens casavam para sair de casa e, sobretudo as mulheres, para poder se relacionar sexualmente sem temer os pais. Hoje, quando um casal decide casar, é porque está mesmo interessado em se comprometer com algo maior. Eles já têm sexo. Eles estão dispostos a construir uma família juntos!
O SEXO LIVRE E RESPONSABILIDADE
O problema maior é como lidar com a sexualidade exercida sem compromisso, no caso de alguns “ficas”. Como vimos, a união sexual promove uma intensa troca energética, e sem o devido comprometimento, pode ser fator de desequilíbrio. Como pais, não devemos proibir, mas orientar nossos filhos para o sexo responsável. Não só com o uso de contraceptivos, impedindo uma gravidez precoce, mas com o cuidado com o parceiro, com os sentimentos do outro, com o próprio corpo físico e espiritual.
Não devemos fazer isso incutindo culpa nos jovens. Pode acontecer de às vezes o instinto falar mais alto, devemos explicar isso. Mas mesmo assim, é preciso que tentem equilibrar corpo e alma, coração e razão. Este é um exercício para vida toda, sabemos disso!
Não é que a gente precise ter certeza que aquele parceiro é “o escolhido”, para relacionar-se sexualmente com ele. O amor só se revela com a convivência, não dá para medir amor. Mas é necessário perguntar-se: “Estou disposto a assumir todas as consequências, mesmo tentando evitá-las, que podem advir deste encontro? Se eu engravidar? Se o outro me deixar?” Se a resposta for não, talvez não seja a hora.
Mas, não vamos ser hipócritas e condenar quem não consegue. É assim mesmo.  A gente às vezes tropeça e cai, mas sempre poderemos contar com uma mão ao nosso lado, seja visível ou invisível, para nos ajudar a levantar.
Escrito por CAROLINE S.TREIGHER

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